Opinião
Helena Garrido - Directora do Jornal de Negócios
Helenagarrido@negocios.pt
12 de Janeiro de 2009 às 13:00
A mão invisível prisioneira
Sabemos melhor o que é bom para nós do que o Estado? Nem sempre. Este é um momento típico em que "o padeiro, ao defender o seu interesse egoísta, não garante generosamente o pão todos os dias", para usar a metáfora de Adam Smith. O universo da mão invisível funciona muito mal quando há desequilíbrio e instabilidade. Todos sabem que o que podem perder por falta de informação é brutal.
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Actualmente vivemos muito mais no mundo do "Dilema do Prisioneiro", onde o que é melhor para cada um de nós individualmente não é a melhor solução para todos e pode até agravar a crise. É essa a razão que justifica, na actual conjuntura, que seja o Estado a escolher o que fazer com o nosso dinheiro. É por isso que as melhores medidas, no actual tipo de crise, não são reduzir impostos a todos.
Na história do "Dilema do Prisioneiro", desenvolvida pelo Nobel John Nash, se nenhum confessasse o crime, os dois saíriam em liberdade. Essa seria a melhor decisão se alguém os pudesse obrigar a não confessar. Mas como cada um deles sabe que, se confessar, tem a pena reduzida, como arrependido, e não sabe se o outro vai ou não dizer o que fizeram, acabam os dois por confessar. E em vez saírem em liberdade, ficam os dois presos, a pior de todas as consequências possíveis.
Os universos de informação imperfeita, contrariamente ao mundo ‘Smithiano’, não garantem que todos fiquem melhor a partir da decisão egoísta de cada um. A actual conjuntura de graves desequilíbrios, elevada instabilidade e de enorme imprevisibilidade coloca-nos mais no mundo do "Prisioneiro" que no de "Smith".
A melhor decisão para cada um de nós individualmente, famílias, bancos e empresas, é poupar, não emprestar e não investir. Uma decisão racional, correcta, porque não conseguimos avaliar os riscos de perder o emprego, de recuperar o empréstimo que concedemos à empresa, de conseguir vender mais com o que investimos... Não conseguimos acreditar na capacidade de antecipar o futuro. E com essa decisão cada um de nós está a afundar ainda mais a economia. Está a agravar a crise.
Os protagonistas políticos, por mais que tentem, não conseguem alterar essa insegurança em relação ao futuro. O efeito de saber que o vizinho ou o primo foi despedido é muitíssimo mais forte nas nossas decisões que qualquer discurso optimista sobre o futuro.
É nestas situações de desequilíbrio crescente em circulo vicioso que o Estado tem obrigatoriamente de intervir. Os efeitos negativos da sua actuação são claramente inferiores ao elevado contributo que vai dar, ao quebrar o circulo vicioso em que entrou a economia e ao relançar a actividade produtiva.
Mas a intervenção pública no tipo de crise que vivemos exige medidas focalizadas e não gerais. Ou corremos o risco de desperdiçar munições.
A descida generalizada de impostos é uma intervenção completamente desajustada, como já o provou o primeiro plano Bush. Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas deviam saber isso.
As ajudas às empresas devem ser limitadas a casos claramente justificados. Ou corremos o risco de estar, mais uma vez, a salvar empresas que já deviam ter falido ou que são demasiado mediáticas para cair ou ainda porque os negócios são dirigidos por quem tem força política e partidária. José Sócrates devia saber isso.
Nesta conjuntura, o Estado consegue escolher melhor do que nós. Desde que decida com critérios do que é melhor para todos e não para satisfazer clientelas ou garantir vitórias eleitorais.
Se as eleições não estivessem tão perto, o combate à crise seria mais eficaz.
Na história do "Dilema do Prisioneiro", desenvolvida pelo Nobel John Nash, se nenhum confessasse o crime, os dois saíriam em liberdade. Essa seria a melhor decisão se alguém os pudesse obrigar a não confessar. Mas como cada um deles sabe que, se confessar, tem a pena reduzida, como arrependido, e não sabe se o outro vai ou não dizer o que fizeram, acabam os dois por confessar. E em vez saírem em liberdade, ficam os dois presos, a pior de todas as consequências possíveis.
A melhor decisão para cada um de nós individualmente, famílias, bancos e empresas, é poupar, não emprestar e não investir. Uma decisão racional, correcta, porque não conseguimos avaliar os riscos de perder o emprego, de recuperar o empréstimo que concedemos à empresa, de conseguir vender mais com o que investimos... Não conseguimos acreditar na capacidade de antecipar o futuro. E com essa decisão cada um de nós está a afundar ainda mais a economia. Está a agravar a crise.
Os protagonistas políticos, por mais que tentem, não conseguem alterar essa insegurança em relação ao futuro. O efeito de saber que o vizinho ou o primo foi despedido é muitíssimo mais forte nas nossas decisões que qualquer discurso optimista sobre o futuro.
É nestas situações de desequilíbrio crescente em circulo vicioso que o Estado tem obrigatoriamente de intervir. Os efeitos negativos da sua actuação são claramente inferiores ao elevado contributo que vai dar, ao quebrar o circulo vicioso em que entrou a economia e ao relançar a actividade produtiva.
Mas a intervenção pública no tipo de crise que vivemos exige medidas focalizadas e não gerais. Ou corremos o risco de desperdiçar munições.
A descida generalizada de impostos é uma intervenção completamente desajustada, como já o provou o primeiro plano Bush. Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas deviam saber isso.
As ajudas às empresas devem ser limitadas a casos claramente justificados. Ou corremos o risco de estar, mais uma vez, a salvar empresas que já deviam ter falido ou que são demasiado mediáticas para cair ou ainda porque os negócios são dirigidos por quem tem força política e partidária. José Sócrates devia saber isso.
Nesta conjuntura, o Estado consegue escolher melhor do que nós. Desde que decida com critérios do que é melhor para todos e não para satisfazer clientelas ou garantir vitórias eleitorais.
Se as eleições não estivessem tão perto, o combate à crise seria mais eficaz.
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