Opinião
Trump e a vitória do populismo
O percurso de Donald Trump até chegar a candidato oficial do Partido Republicano à Casa Branca é sobejamente conhecido.
Trump começou por ser desconsiderado do ponto de vista intelectual e visto como um "outsider" que apenas procurava protagonismo para si mesmo, foi superando obstáculos e está agora frente a frente com Hillary Clinton na disputa pela presidência dos EUA. Deixou de ser motivo de escárnio e passou a assustar.
No rescaldo do primeiro "round" televisivo, que decorreu na madrugada de segunda-feira, os líderes de opinião e as sondagens efectuadas logo a seguir ao debate convergiram na mesma direcção: Hillary bateu Trump nesta primeira batalha de argumentos.
O candidato republicano pode até repugnar pelos valores que defende, mas tem a fórmula mágica para captar a simpatia dos eleitores – soluções simples para problemas complexos. A mesma receita que explica a força crescente da extrema-direita na Europa, a qual está cada vez mais próxima do poder. Essas soluções podem ser desmontadas, como o fez Hillary no primeiro debate com Trump, mas continuam a ser magnéticas. Daniel Innerarity, filósofo político, numa entrevista ao Negócios, balizou assim o problema. "Aceitámos os termos do populismo e os seus marcos de referência. Estamos a perder a batalha nesta descrição e há que ganhá-la. No curto prazo não estou muito optimista, mas acredito que as ideias simples, baratas e fáceis só têm um êxito imediato. Com o passar do tempo as pessoas irão constatar que as soluções dos populistas não são boas."
O facto de Donald Trump ter chegado a este patamar, onde disputa taco a taco as presidenciais norte-americanas com Hillary Clinton, já é por si uma vitória estrondosa do populismo e um sinal de degradação de um sistema de representação política em que os cidadãos não se revêem. O sucesso de Trump, neste sentido, é uma vergonha para a democracia.
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