Opinião
Táxis, os melhores amigos da Uber
Os táxis, refastelados na sua poltrona monopolista, continuam a achar que a melhor maneira de defender o seu negócio é proibir a Uber e a Cabify ou então transformá-las em táxis.
O protesto dos taxistas contra a legalização da Uber e da Cabify deu no que se esperava. Pelo menos em Lisboa. Imagens de indignação, nervos à flor da pele, a polícia em alerta máximo, um ataque estúpido a um condutor de um Uber, danificando-lhe o carro, e um taxista a apontar o dedo a um outro Uber, numa bomba de gasolina, acusando-o de ser ilegal, ao mesmo tempo que fumava num local onde é proibido fazê-lo.
Uma situação como esta, em que uma dúzia de energúmenos captam as atenções das câmaras pelas piores razões, é sempre penalizadora para uma classe na qual (como em todas) existem profissionais competentes e dedicados.
Contudo, o problema começa na abordagem que os representantes dos taxistas fazem do surgimento de plataformas como a Uber e a Cabify. Num artigo publicado ontem no Público, Carlos Ramos, presidente da Federação Portuguesa do Táxi tropeça nesse erro. Escreve ele: os taxistas foram forçados ao protesto "para promover um amanhã de legalidade, onde todos têm direito ao trabalho com as mesmas regras… Para a mesma função, a mesma exigência".
Este padrão único, reivindicado por Carlos Ramos, resulta de um duplo logro de análise: 1) o de querer que a Uber e a Cabify sejam iguais aos táxis; 2) o de defender princípios igualitários que vão contra as mais elementares regras da concorrência.
Por absurdo, aquilo que Carlos Ramos e seus pares defendem seria o mesmo que impor a toda a indústria de panificação que fizesse pão exactamente da mesma maneira e que cada empresa pagasse rigorosamente o mesmo salário aos seus funcionários. Por sua vez, os consumidores seriam todos obrigados a comerem esse pão, gostassem ou não.
Os táxis, refastelados na sua poltrona monopolista, continuam a achar que a melhor maneira de defender o seu negócio é proibir a Uber e a Cabify ou então transformá-las em táxis. Uma espécie de totalitarismo da oferta impossível de sobreviver na sociedade actual, marcada pela pluralidade dos serviços disponibilizados aos cidadãos nas mais diversas áreas.
A legislação que o Governo propõe para legalizar a Uber e a Cabify é equilibrada. Mais coisa, menos coisa, protege os direitos dos taxistas e impõe uma série de obrigações a estas plataformas que permitem uma concorrência saudável entre ambos e dão opção de escolha aos consumidores.
A impopularidade da luta dos taxistas devia ser suficiente para que os seus representantes se questionassem sobre o porquê da mesma. Infelizmente, continuam a apontar culpas a terceiros, quando boa parte da responsabilidade pelo crescimento de plataformas com a Uber e a Cabify é sua.