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Mytaxi: "Queremos um taxista com perfil tecnológico"

Para lá dos protestos, há formas mais “elegantes” de lidar com a mudança. Num sector preso no século XX, a Mytaxi quer encontrar soluções. O “grande desafio” é mudar mentalidades.

Miguel Baltazar
17 de Outubro de 2016 às 20:00
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Na semana passada, os taxistas protagonizaram um novo protesto contra a Uber e Cabify em Lisboa. A violência foi um dos ingredientes fortes e a imagem do sector voltou a sair afectada. Por isso foi também cancelado um novo protesto em frente à Presidência da República. Há quem acredite que esta área de actividade tem margem para mudar. Antonio Cantalapiedra, CEO ibérico da Mytaxi, tem noção que o tradicional táxi não pode ser a única opção de mobilidade. Resta-lhe adaptar-se à tecnologia, actualizar-se, defende.

cotacao Há padrões que nos distinguem em relação à outra parte da indústria do táxi que parece estar no século XX. antonio cantalapiedra Ceo ibérico da mytaxi

Como vê toda esta confusão no sector do táxi?
É mesmo essa a palavra: confusão. Respeitamos a liberdade de expressão e o direito à greve. Mas há uma forma mais inteligente: digitalizar e modernizar o sector, com aplicações como a Mytaxi. É mais elegante do que fazer manifestações. É a melhor forma de convencer o utilizador, que tem a decisão final. Não respeitamos é o uso da violência: se souber que algum taxista da Mytaxi foi violento neste tipo de manifestações, estará fora da frota.

Há critérios para entrar na Mytaxi?
Somos uma aplicação que não tem nada que ver nem com as centrais de táxi, nem com a ANTRAL, nem com Florêncio [de Almeida]. Somos diferentes, temos uma mentalidade diferente. Queremos modernizar e ser competitivos face à Uber ou outras soluções. Há padrões de qualidade, que nos distinguem em relação à outra parte da indústria do táxi que parece estar no século XX. Temos uma academia para ensinar protocolo aos taxistas, das boas maneiras ao idioma, passando pelo manejo da aplicação.

Só quem passa nessa formação trabalha convosco?
Exacto. Os nossos carros também não podem ter mais que cinco anos. Em Lisboa queremos um taxista com um perfil tecnológico. Quando o taxista entra, há uma monitorização todos os dias. Lemos os comentários dos clientes, há avaliação no final da viagem. Se o taxista não cumpre os padrões, é convidado a sair da frota. Os nossos padrões de qualidade são muito estreitos e é difícil que o taxista fuja.

É um serviço muito semelhante à Uber e Cabify então?
Diria que é melhor. Tecnologicamente, a aplicação é muito boa. A Cabify surgiu um pouco mais tarde e acaba por copiar os avanços da Mytaxi. Depois, a Mytaxi trabalha com condutores profissionais, que conhecem bem a cidade. Muitas vezes, os condutores da Uber e Cabify não são condutores profissionais.

Estão só em Lisboa?
Sim. Há planos para entrar no Porto em 2017. Só não o fizemos porque comprámos outra aplicação, a Hailo, e estamos em processo de migração. Queremos vertebrar Portugal do ponto de vista da mobilidade.

Quantos condutores têm? E clientes?
Mais de 500, em números redondos. Clientes já é um dado confidencial.

O processo de expansão pode ser dificultado pelos protestos dos taxistas?
Espero que não. Temos um plano, independente de outras aplicações, e esperamos que a Mytaxi saia desta confusão. Quem analisar o nosso trabalho dará conta que esta é uma aplicação que está a melhorar a qualidade de vida dos taxistas. E a mobilidade.

cotacao Temos uma academia para ensinar protocolo antonio cantalapiedra Ceo ibérico da mytaxi

Conhece a nova lei que o Governo português está a preparar para a Uber e Cabify?
Pensar que o táxi vai ser a única solução de mobilidade nas cidades é não ver o que se está a passar. Cada vez mais, o cliente quer ser mais servido no momento. Há espaço para todos. Não estou nem a favor nem contra a lei. Creio que seria bom, antes que a aprovassem, que contassem com a Mytaxi.

Gostavam de ter sido ouvidos?
Devia ter havido ou haver ainda uma mesa redonda com diferentes aplicações e empresas de táxis. Para que essa legislação seja equilibrada para todos. Dá-me a sensação que se tentou, mas não fomos chamados para mostrar a nossa experiência e dados. Vejamos o que vai acontecer.

As regras para os táxis em Portugal são pouco flexíveis?
As centrais parecem paradas no século XX. Nessa altura, a mobilidade era um exclusivo delas. Agora, no século XXI, parece que as aplicações lhes estão a roubar o trabalho. O mundo mudou e eles não entenderam isso. É uma questão de mentalidade. Vão acabar por dar conta que não se pode parar o mundo digital. É uma forma de planificar a procura. Não faz sentido o modo como hoje circulam os táxis, de uma forma desordenada.

O grande desafio é mudar a mentalidade dos taxistas?
Sim. Já há uma parte que o fez. Falta que mudem os outros. E sobretudo os representantes do sector, gente muito respeitável mas que não é capaz de ver o que está a acontecer. Ou vêem e esperam que este processo demore, porque assim ganham mais dinheiro. Não é inteligente, não é a forma de melhorar e sobreviver frente à Uber e outras plataformas.

perfil O que faz a Mytaxi? Em Lisboa, um em cada sete táxis já tem o carimbo da Mytaxi. São 500 dos 3.500 existentes na capital. A Mytaxi foi fundada em 2009 na Alemanha, como subsidiária de uma empresa do grupo Daimler, dono da marca automóvel Mercedes-Benz. A intenção da aplicação é ligar os utilizadores com a rede de táxis registada na plataforma. Tudo através de um ecrã de telemóvel, inclusive a opção de pagamento. A chegada em Lisboa deu-se em Dezembro de 2015, já a Uber operava e gerava a "fúria" dos taxistas nacionais. Nessa altura, a Mytaxi prometia "oferecer uma nova experiência". Recentemente, a Mytaxi fundiu-se com a Hailo, o que permitirá criar a maior aplicação de táxis da Europa. Em Portugal, o próximo passo é o Porto e pode chegar já em 2017.
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