Opinião
O grande muro das aflições
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, avisou a empresa LafargeHolcim dos riscos que corre se fornecer cimento para o muro que Donald Trump está a construir na fronteira entre os EUA e o México.
"Há outros clientes no mundo que verão isto com alguma estupefacção", alertou o governante, reagindo às declarações do presidente da cimenteira, Eric Olsen, o qual disse que a sua empresa estava preparada para fornecer materiais para o dito muro.
Parece evidente que a LafargeHolcim pode sofrer danos reputacionais e até perder clientes caso tome esta opção. Mas também é evidente que este é um problema da empresa e dos seus accionistas. De igual forma, é claro que Trump irá construir o muro, porque não lhe hão-de faltar fornecedores de cimento ou de outros materiais.
A posição do MNE francês, por sua vez, é politicamente correcta, mas de uma inconsequência aflitiva. Se o Governo francês condena a atitude do Presidente dos EUA, então devia agir em conformidade usando os instrumentos políticos de que dispõe. Por exemplo, retirar o seu embaixador dos EUA, expulsar o embaixador norte-americano em França, ou até, de forma radical, cortar relações diplomáticas com os EUA.
Em vez disso, Jean-Marc Ayrault pressiona uma empresa privada, esquecendo-se dos governos franceses que foram mantendo relações fortes com líderes de outros países altamente controversos, como, por exemplo, Khadafi na Líbia, e incentivando as suas empresas a manterem relações comerciais com eles. Ou fazendo tábua rasa dos muitos muros que se foram construindo por esta Europa fora para deter a marcha dos refugiados, um dos quais em Calais, na fronteira entre o Reino Unido e França.
Isto é tão confrangedor quanto ouvir o Presidente da Turquia, Recep Erdogan, afirmar sem pingo de vergonha que "a Alemanha saiu da democracia" e que "as suas práticas actuais são comparáveis com as do regime nazi".
A declaração de Jean-Marc Ayrault é como a frase publicitária que Fernando Pessoa criou para a Coca-Cola, mas com uma inversão da ordem dos verbos: "Primeiro entranha-se, depois estranha-se."
Entranha-se porque tem um perfume de populismo. Estranha-se porque nos leva a concluir que o Governo francês (como muitos outros), quer que terceiros tomem por ele as atitudes que o próprio devia tomar.
Parece evidente que a LafargeHolcim pode sofrer danos reputacionais e até perder clientes caso tome esta opção. Mas também é evidente que este é um problema da empresa e dos seus accionistas. De igual forma, é claro que Trump irá construir o muro, porque não lhe hão-de faltar fornecedores de cimento ou de outros materiais.
Em vez disso, Jean-Marc Ayrault pressiona uma empresa privada, esquecendo-se dos governos franceses que foram mantendo relações fortes com líderes de outros países altamente controversos, como, por exemplo, Khadafi na Líbia, e incentivando as suas empresas a manterem relações comerciais com eles. Ou fazendo tábua rasa dos muitos muros que se foram construindo por esta Europa fora para deter a marcha dos refugiados, um dos quais em Calais, na fronteira entre o Reino Unido e França.
Isto é tão confrangedor quanto ouvir o Presidente da Turquia, Recep Erdogan, afirmar sem pingo de vergonha que "a Alemanha saiu da democracia" e que "as suas práticas actuais são comparáveis com as do regime nazi".
A declaração de Jean-Marc Ayrault é como a frase publicitária que Fernando Pessoa criou para a Coca-Cola, mas com uma inversão da ordem dos verbos: "Primeiro entranha-se, depois estranha-se."
Entranha-se porque tem um perfume de populismo. Estranha-se porque nos leva a concluir que o Governo francês (como muitos outros), quer que terceiros tomem por ele as atitudes que o próprio devia tomar.
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