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Costa deixa PT sem rede

A resposta do primeiro-ministro esteve longe de ser fruto de um arrebate. Foi ponderadamente feroz e é um ataque ao grupo Altice, dono da PT Portugal.

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No mesmo dia em que o presidente da PT Portugal, Paulo Neves, foi ao Parlamento garantir que a empresa "honra todos os compromissos legais" com os seus trabalhadores, António Costa fez um surpreendente ataque à operadora, durante o debate do estado da nação, insinuando que foi a que esteve pior durante o incêndio de Pedrógão Grande. E terminou assim: "Olhe, eu por mim, já fiz a minha escolha da companhia que utilizo."

 

De manhã, na comissão parlamentar de Trabalho e Segurança Social, Paulo Neves garantiu que a empresa age de forma transparente na sua relação com os trabalhadores. "Não aceito qualquer acusação de ilegalidade", afirmou, em resposta a questões feitas por vários deputados sobre a transferência de trabalhadores da PT Portugal para outras entidades do grupo Altice e de parceiras como a Visabeira.

 

À tarde,  reagindo a uma intervenção do PCP sobre o processo de despedimentos na PT Portugal, António Costa foi eloquente. "Receio bastante pelo que possa acontecer à PT, pela forma irresponsável como foi feita a privatização, que possa ser um novo caso Cimpor. E que isso possa pôr em causa, quer os postos de trabalho quer o futuro da companhia. Era bom que a autoridade reguladora  visse o que aconteceu, desde logo no caso de Pedrógão. Em que algumas operadoras conseguiram manter sempre comunicações, outras não. Olhe, eu por mim já fiz a escolha da companhia que utilizo."

 

A resposta do primeiro-ministro esteve longe de ser fruto de um arrebate. Foi ponderadamente feroz e é um ataque ao grupo Altice, dono da PT Portugal. Acontece num momento em que a empresa tem em curso um processo de despedimentos e realocação de trabalhadores, mas também num contexto em que já são públicas as negociações entre a Altice e a Prisa para a compra da TVI. De uma penada, António Costa desaconselha os consumidores a serem clientes da PT Portugal (vulgo, Meo), lança dúvidas sobre a forma como é gerida e revela que não tem em boa conta um grupo que deseja reforçar a sua presença em Portugal através da compra da TVI.

 

Com tudo isto, António Costa protagonizou uma violenta investida política contra uma empresa privada que vive em regime concorrencial e este seu comportamento é passível de crítica na medida em que pode contribuir para distorcer as regras de mercado. O primeiro-ministro extravasou claramente as suas competências, mas porventura atingiu o efeito político que desejava, legitimando os argumentos sindicais e transformando a PT Portugal e a Altice em sacos de boxe. E o assunto não vai ficar por aqui. 

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