Opinião
A rede da vergonha
Desde 2010 que o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) regista falhas. Esta constatação é feita em relatórios de desempenho da autoria da própria empresa e foi ontem noticiada pelo Jornal de Notícias.
Pode até dizer-se que é uma boa prática assumir os erros, mas nada fazer para evitar a sua repetição é uma realidade que penaliza todos os que têm responsabilidades no SIRESP, uma parceria público-privada da qual fazem parte as empresas Galilei (33%), Datacomp (9,55%), PT (30,55%), Motorola (14,9%) e Esegur (12%).
A lista de falhas do SIRESP, detectadas pela própria empresa entre 2010 e 2017, contempla incêndios, tempestades, uma cimeira da NATO e até a visita do Papa Bento XVI. Perante este arrazoado de falhas, o governo anterior, em vez de multar a empresa (o que estava previsto no contrato), optou por renegociar o contrato, "baixando o preço e aumentando as obrigações do SIRESP", como explicou o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. Como de nada serve à actual titular da pasta, Constança Urbano de Sousa, afirmar que as falhas "não são de hoje".
Se poupar o erário público pode até ser visto como um acto de gestão saudável, fica-se por compreender quais foram as "obrigações" acrescidas a que a empresa foi sujeita, na medida em que os problemas do sistema se mantiveram, como foi desgraçadamente visível no incêndio de Pedrógão Grande e em circunstâncias posteriores, como já denunciaram os bombeiros.
Todos os governos, sem excepção, são responsáveis por estas falhas frequentes do SIRESP e têm de assumir o ónus político desta realidade. A história da criação do SIRESP é complicada, está cheia de buracos negros e recheada de suposições menos abonatórias. Os relatórios do SIRESP, nesta medida, são o retrato de uma inconsciência coroada com um distribuição de dividendos (6,67 milhões de euros em 2016), que à luz destas falhas dá lastro a um justificado clima de indignação.
Infelizmente, foram precisos 65 mortos num incêndio para mostrar que a rede de emergência nacional é uma rede cheia de buracos que precisa de ser urgentemente reparada porque presta serviços vitais a Portugal.
O SIRESP será um bom sistema quando se deixar de falar dele, porque essa ausência noticiosa é um sinal de que estará a funcionar. Até lá, estes relatórios mais nada fazem do que avolumar a vergonha.
A lista de falhas do SIRESP, detectadas pela própria empresa entre 2010 e 2017, contempla incêndios, tempestades, uma cimeira da NATO e até a visita do Papa Bento XVI. Perante este arrazoado de falhas, o governo anterior, em vez de multar a empresa (o que estava previsto no contrato), optou por renegociar o contrato, "baixando o preço e aumentando as obrigações do SIRESP", como explicou o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. Como de nada serve à actual titular da pasta, Constança Urbano de Sousa, afirmar que as falhas "não são de hoje".
Todos os governos, sem excepção, são responsáveis por estas falhas frequentes do SIRESP e têm de assumir o ónus político desta realidade. A história da criação do SIRESP é complicada, está cheia de buracos negros e recheada de suposições menos abonatórias. Os relatórios do SIRESP, nesta medida, são o retrato de uma inconsciência coroada com um distribuição de dividendos (6,67 milhões de euros em 2016), que à luz destas falhas dá lastro a um justificado clima de indignação.
Infelizmente, foram precisos 65 mortos num incêndio para mostrar que a rede de emergência nacional é uma rede cheia de buracos que precisa de ser urgentemente reparada porque presta serviços vitais a Portugal.
O SIRESP será um bom sistema quando se deixar de falar dele, porque essa ausência noticiosa é um sinal de que estará a funcionar. Até lá, estes relatórios mais nada fazem do que avolumar a vergonha.
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