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Dentro da Caixa

A Caixa Geral de Depósitos está por estes dias transformada no território da intriga política, e o seu novo presidente, António Domingues, é o alvo central. Primeiro, criticou-se o seu salário mensal, 30 mil euros.

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Agora, coloca-se em questão o facto de poder ter tido acesso a informação privilegiada sobre a Caixa – quando ainda estava no BPI – para definir o plano de recapitalização do banco público. E para fechar a festa ainda irá fazer a sua aparição mediática (foi suspensa até à aprovação do Orçamento para 2017) na comissão parlamentar de inquérito ao banco público.

O salário, naturalmente, é matéria explosiva, capaz de suscitar a revolta popular. Trinta mil euros é muito dinheiro quando comparado, por exemplo, com o vencimento do Presidente da República, sendo além disso ofensivo quando comparado com a frugalidade da generalidade dos ordenados dos portugueses.

No caso do putativo acesso a informação privilegiada para traçar o plano estratégico de recapitalização da Caixa negociado com Bruxelas e o BCE, António Domingues está retoricamente derrotado à partida. Se obteve a referida informação, isso constitui um comportamento reprovável no plano ético porque ainda estava no BPI. Se não teve, então faltaram-lhe elementos decisivos para elaborar o plano, o que coloca em causa a eficácia do mesmo.

Subtraindo os juízos de valor sobre as motivações que estão na base desta polémica, permanece uma certeza. O fogo cerrado sobre António Domingues e a Caixa, mais do que constituir-se como uma forma de fragilizar o Governo, prolonga a instabilidade da Caixa Geral de Depósitos e retira-lhe valor enquanto banco.

A gritaria em torno do salário de Domingues (entendível se o debate se colocasse no plano moral) é despicienda nesta situação particular e contrasta com o silêncio transversal que se criou em relação à prometida auditoria forense à Caixa Geral de Depósitos. António Domingues, o íman que atrai o debate, foi contratado (aparentemente) para pôr ordem numa casa que precisou de um plano de recapitalização para tapar buracos, mas ninguém parece preocupar-se em descobrir quais foram os erros de gestão que conduziram o banco a este beco sem saída.

Há aqui uma clara inversão de prioridades, uma corrida para a frente que olvida a razão pela qual se começou a correr. É por isso que a auditoria forense à Caixa é um imperativo categórico. Dentro do passado da Caixa há muito que precisa de ser explicado. A bem do erário público. 

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