Opinião
Uma Europa sem Merkel
Quando a Alemanha foi eliminada do Mundial da Rússia pela Coreia do Sul, a maioria dos portugueses e muitos outros europeus rejubilaram. É futebol, a Alemanha é uma potência do desporto, campeã em título, e há um prazer em ver os favoritos caírem. Não é tão inocente assim...
A verdade é que a austeridade criou um ressentimento no Sul da Europa e o apoio aos países mais endividados um ressentimento no Norte. Ver a Alemanha ficar em último do seu grupo tem um doce gosto a "payback".
Angela Merkel é a face dessa política europeia dos anos da crise. Para o mal, mas também para o bem. E o bem é que sem a sua capacidade para gerir as sensibilidades e os equilíbrios, quer dentro da Alemanha quer entre os Estados-membros, a Zona Euro poderia já não existir, ou existir numa versão diminuída e de futuro incerto.
Esse equilíbrio faltou-lhe na política de portas abertas à imigração de 2015. Seja por excesso de confiança, seja porque a urgência da situação não se compadecia com os "timings" do consenso político, seja porque menosprezou a reacção social à entrada de mais um milhão de refugiados nas fronteiras alemãs. A imigração transformou-se no factor de fractura externa e interna. Agora, como nunca até aqui, a saída de Angela Merkel está em jogo.
Em disputa estão duas visões da sociedade, mas também da Europa. Merkel como campeã dos valores humanistas europeus e da integração, que mesmo aceitando regras mais apertadas se opõe a fechar as fronteiras da Alemanha. Do outro lado está Horst Seehofer, o líder da CSU, que joga no travão da imigração a hipótese de segurar a maioria no Parlamento da Baviera, roubando o discurso extremista do Alternativa para a Alemanha.
As negociações terminaram com um acordo que deverá assegurar a sobrevivência da coligação governamental. Mas Merkel sai ferida deste embate em que foi atirada contra as cordas – Seehofer chegou a dizer que é à conta dele que ela se mantém no cargo. Este "round" terminou, mas outros virão para testar o "KO".