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Pode a Bitcoin ser uma moeda real?

O fascínio pela Bitcoin não surge à toa. Enquanto moeda virtual, feita apenas de zeros e uns, desafia a noção física que temos do dinheiro.

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O fascínio pela Bitcoin não surge à toa. Enquanto moeda virtual, feita apenas de zeros e uns, desafia a noção física que temos do dinheiro. Seduz pelo espírito libertário que encerra, por não estar associada a qualquer país, nem ser controlada por nenhum governo ou banco central. Há ainda o mistério à volta da sua criação - do seu fundador só se conhece o pseudónimo. Acontecimentos recentes vieram pôr em causa a sua viabilidade. Resta saber se são apenas dores de crescimento, ou o princípio do fim.


A Bitcoin resulta de um algoritmo criado em 2008 por alguém conhecido como Satoshi Nakamoto. Através de um programa informático específico, que permite descodificar esse algoritmo, são obtidas as "bitcoins". O processo exige uma elevadíssima capacidade de processamento dos computadores. As moedas obtidas podem depois ser transaccionadas, num processo também validado por software específico.


Do universo "geek", a Bitcoin transformou-se o ano passado num fenómeno mediático. A extraordinária valorização, à boleia da procura pelos chineses (saltou de 15 dólares em Janeiro para mais de 1200 dólares em Dezembro), fê-la saltar para a "homepage" dos meios de comunicação social financeiros.


Foi-se assumindo como forma alternativa de pagamento em vários serviços. Muitos adoptam-na pela publicidade gratuita gerada pelo simples anúncio da aceitação da moeda virtual.


O Bank of America reforçou-lhe o crédito quando em Dezembro atribuiu uma avaliação de 1300 dólares. Um mês antes, o então presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, reconhecera numa carta ao Congresso a possibilidade de as moedas virtuais emergirem, a longo prazo, como "um sistema de pagamento mais rápido, mais seguro e mais eficiente".


O fluxo de notícias positivas inverteu-se ainda em Dezembro depois de o Governo chinês ter proibido o sistema financeiro de usar a Bitcoin. A maior ameaça à sua sobrevivência chegou o mês passado, quando "hackers" roubaram cerca de 850 mil "bitcoins" de uma das maiores plataformas de transacção, a japonesa Mt. Gox. O caso levou à suspensão de outras plataformas. A empresa anunciou a falência na sexta-feira. Os clientes perderam o equivalente a 500 milhões de dólares (à cotação de 564 dólares por "bitcoin").


A questão central está em saber se pode a Bitcoin assumir-se como uma moeda. "Para ser bem sucedida, uma moeda tem de servir como meio de troca e ser uma reserva de valor razoavelmente estável", assinalava recentemente Paul Krugman num artigo no "The New York Times". "Continua a ser uma incógnita como pode a Bitcoin ser uma reserva de valor", concluía o prémio Nobel da Economia.


A volatilidade do preço, a falta de transparência, a ausência de regulação, o uso para fins ilícitos, a insegurança das transacções e a possibilidade de ser substituída por outra moeda virtual, sobressaem entre os factores que ameaçam a viabilidade da Bitcoin como reserva de valor.


Há quem defenda que casos como o da Mt. Gox servem para depurar a Bitcoin das suas fragilidades. Que a farão emergir mais forte. Mas sem vencer os desafios que lhe podem dar legitimidade, a moeda virtual dificilmente se assumirá como alternativa.

 


averissimo@negocios.pt

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