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O capital é todo igual?

A nacionalidade do capital faz diferença? Esta tem sido uma questão latente nas fusões e aquisições a que assistimos em Portugal nos últimos anos.

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A nacionalidade do capital faz diferença? Esta tem sido uma questão latente nas fusões e aquisições a que assistimos em Portugal nos últimos anos. Serem chineses, angolanos, alemães ou americanos importa? Sim. E muito. Só que importarmo-nos é, ainda, um luxo.


Fernando Ulrich, que tem nos chineses os maiores rivais na corrida ao Novo Banco - ou pelo menos os com maior fôlego financeiro -, afirmou na conferência do Negócios sobre "Os Caminhos do Crescimento", realizada na última sexta-feira, estar chocado com "tanto investimento chinês em empresas estratégicas portuguesas". Quase parece estar a antecipar o desfecho deste processo: a parte boa que sobrou do BES vai para os candidatos asiáticos. Mas não é esse aqui o ponto. É se devemos discriminar o capital em função da sua origem.


A vitória da China Three Gorges na última fase de privatização da EDP, ou da State Grid of China na da REN, já tinha o paradoxo de substituir o Estado português pelo chinês, uma vez que o capital dos compradores é público. Ora cada Estado move-se pelos seus próprios interesses, amiúde não coincidentes com as restantes partes interessadas na empresa, sejam elas outros investidores, consumidores ou o governo do país-alvo.


O mesmo pode acontecer com um privado, mas ter o Estado como accionista de referência aumenta o risco da opacidade nas decisões. Esse perigo é ainda maior se estivermos a falar de um país onde a reputação sobre a transparência do Estado está longe dos padrões ocidentais. Onde a origem do capital é mais obscura.


Estes riscos podem não se ter materializado na EDP ou na REN. Ou tão-pouco na Fidelidade, detida pela Fosun, esta uma empresa privada. Até porque há uma imagem a preservar. Se Portugal é um cartão-de-visita para a Europa, interessa não borrar a reputação.


Fernando Ulrich insiste: "Ser o porta-aviões da China na Europa não é o destino que eu quero para Portugal". E ser o porta-aviões de Angola? As mesmas questões levantam-se quando as participações são detidas por empresas do Estado angolano. Ou de outro Estado qualquer. Mais ainda quando os valores civilizacionais ou a cultura empresarial exibem padrões em que não nos revemos.


A pátria do capital faz diferença. Seria preferível ter as empresas compradas por capital espanhol, alemão ou norte-americano. Mas a escolha é um luxo a que Portugal não se pode dar. Precisamos de capital como "de pão para a boca", dizia o primeiro-ministro na conferência do Negócios. E quando assim é, o preço é o critério que prevalece. Foi assim nas privatizações. Será assim na venda do Novo Banco, onde a prioridade do sector é garantir que a diferença para os 4,9 mil milhões injectados pelo Fundo de Resolução é a menor possível.

 

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