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28 de Dezembro de 2016 às 00:01

Mestre Putin

Em tempo de balanços do ano, Donald Trump emerge como a figura unânime de 2016. Mas outra merece lugar de destaque e olhar atento: Vladimir Putin. O presidente russo estendeu a sua teia de influência na Europa, afirmou-se no Médio Oriente, mexeu cordéis nas eleições americanas e foi instrumental no acordo da OPEP para fazer subir o preço do petróleo.

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A Rússia parecia votada a um papel secundarizado na ordem mundial. A queda a pique do preço do petróleo privou o Kremlin de um encaixe fundamental e o país de divisas. A Federação entrou numa profunda recessão. Mas Putin está habituado a fazer das fraquezas as suas forças. O conflito com a Ucrânia ajudou a unir a maioria dos russos em torno do Presidente, que goza de ampla popularidade - nada como um confronto armado para acicatar nacionalismos. Vieram sanções da União Europeia, mas a anexação da Crimeia tornou-se um dado adquirido. Como antes acontecera com partes da Geórgia.

Os sinistros e ardilosos planos de Putin são muito mais vastos. O antigo agente do KGB investiu na ciberespionagem e a aposta teve os seus frutos nas eleições americanas, com a invasão de servidores do Partido Democrata a permitirem a divulgação de "emails" que penalizaram a campanha de Clinton. No fim ganhou o candidato que Moscovo queria.

Putin conseguiu afirmar-se no Médio Oriente, viabilizando a vitória de Bashar al-Assad sobre os rebeldes na tragédia de Aleppo. O sucesso da Rússia é a derrota de um Ocidente sem liderança.

Mais perto, o Presidente russo tem-se entretido a cultivar os movimentos extremistas e populistas na Europa. O que passa por ceder-lhes financiamento. Só Marine le Pen, da Frente Nacional, veio assumir ter recebido um empréstimo de um pequeno banco com ligações ao Kremlin. Mas já este mês o Partido da Liberdade austríaco assinou um acordo de cooperação com o partido de Putin. Também o Alternativa para a Alemanha tem vindo a fortalecer os laços com o Rússia Unida. E vale a pena lembrar a aproximação entre Atenas e Moscovo no período mais crítico das negociações para o terceiro resgate.

Putin faz tudo isto sem oposição de relevo. Podemos ver nesta fértil actividade apenas uma forma de esconder a sua fragilidade. Mas com Obama de partida e Trump a mostrar alguma simpatia para com Moscovo, o Presidente russo é cada vez mais o mestre das marionetas. E manipula-as sentado num arsenal nuclear que faz questão de invocar com crescente frequência. A Guerra Fria está de volta. Putin tem um plano e está a executá-lo. E o Ocidente? 

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