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Opinião
23 de Novembro de 2016 às 00:01

A vantagem de ser tolerante

Num mundo onde crescem os nacionalismos e os fenómenos de intolerância, a forma aberta como Portugal aceita e recebe outras culturas transforma-se numa vantagem comparativa, que vale a pena aproveitar.

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O crescimento dos populismos, de mão dada com o racismo, os sentimentos anti-imigração e anti-semitas, cria uma fronteira entre os países que os têm e aqueles onde eles não existem ou são residuais. Portugal está, claro, no segundo grupo.

Ao facto de sermos um país seguro, com estabilidade política e social, podemos juntar como elemento de atractividade sermos um país genericamente tolerante. Nem sempre foi assim na nossa História, e talvez não fosse hoje se tivéssemos recebido uma vaga de emigrantes como a Alemanha ou a Itália. Mas é claramente um traço da nossa cultura, patente quer na forma como, na pele de emigrantes, nos adaptamos aos países de destino, quer como anfitriões recebemos quem nos escolhe.

É inegável que a segurança e a estabilidade social são hoje factores de atracção do turismo, que dão a Portugal uma vantagem comparativa em relação a destinos onde estas condições se deterioraram, como o Magrebe, o Norte de África e até alguns países da Europa. A que se junta agora a tolerância.

A mesma combinação virtuosa contribui para que o país seja procurado por quem tenta tirar partido dos vistos "gold" ou do regime fiscal para o residente não habitual. Mais, pode ajudar a trazer talento para Portugal. Numa entrevista recente ao Negócios, o "chief operating officer" da BlaBlaCar realçava que "com o que aconteceu nas eleições nos EUA poderemos ver talentos a voltar para a Europa".

A imagem, verdadeira, de um país tolerante pode até ajudar a trazer investimento, a atrair, por exemplo, mais centros de tecnologia. Como se viu nos EUA, a ascensão do populismo ao poder acarreta o risco de uma mudança súbita nas políticas, ao trazer uma agenda onde muitas vezes coabitam doutrinas nacionalistas com proteccionismo comercial e até uma maior intervenção do Estado na economia. É um factor de incerteza, coisa que os investidores não apreciam.

O presidente da Câmara de Lisboa percebeu isso quando, no dia a seguir à eleição de Donald Trump, colocou à porta da Web Summit um cartaz em inglês onde se lia que "no mundo livre ainda pode encontrar uma cidade para viver, investir e construir o futuro. Fazer pontes, não muros." Porque são estes os valores que a cidade e o país partilham. E eles hoje distinguem-nos.

É brutalmente revelador do mundo para o qual caminhamos, mas a tolerância é um substantivo que passou a fazer sentido numa campanha sobre Portugal. E, infelizmente, não se vê jeitos que venha a deixar de fazer. 
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