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14 de Abril de 2016 às 20:30

O fim dos grandes bancos

Poucos responsáveis expressam em privado a satisfação em relação ao progresso da reforma financeira. Em público, muitos deles são mais educados, mas o presidente da Reserva Federal de Minneapolis, Neel Kashkari, pôs recentemente o dedo na ferida, quando apelou a uma reavaliação ao progresso que tem sido feito na abordagem ao problema das instituições financeiras que são “demasiado grandes para cair” ("too big to fail", ou TBTF).

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Após quase uma década de crises, resgates e reformas nos Estados Unidos e na União Europeia, o sistema financeiro - tanto nestes países como globalmente – é em grande parte igual ao que tínhamos em 2006. Foram tentadas muitas reformas financeiras desde 2010, mas os efeitos gerais têm sido limitados. Alguns grandes bancos têm enfrentado dificuldades, mas outros melhoraram e retomaram o seu lugar. Tanto antes da crise financeira de 2008 como nos dias de hoje, pouco mais de uma dúzia de grandes bancos dominam o sector financeiro mundial. No entanto, a terra continua a girar e os grandes bancos poderão em breve ser uma coisa do passado.

 

Poucos responsáveis expressam em privado a satisfação em relação ao progresso da reforma financeira. Em público, muitos deles são mais educados, mas o presidente da Reserva Federal de Minneapolis, Neel Kashkari, pôs recentemente o dedo na ferida, quando apelou a uma reavaliação ao progresso que tem sido feito na abordagem ao problema das instituições financeiras que são "demasiado grandes para cair" ("too big to fail", ou TBTF).

 

Kashkari trabalhou para Henry Paulson no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, a partir de 2006. Não assistiu apenas ao desenrolar da crise financeira. Em Outubro de 2008, tornou-se o secretário-assistente responsável pelo Programa de Alívio de Activos Problemáticos (TARP, na sigla anglo-saxónica), com o objectivo de estabilizar o sistema financeiro. É um republicano que trabalhou tanto no Goldman Sachs (um grande banco) como na PIMCO (uma grande gestora de activos). Por isso, as pessoas prestam atenção quando diz: "Eu acredito que os maiores bancos ainda são demasiado grandes para falir e continuam a representar um risco significativo e contínuo para a nossa economia".

 

E Kashkari está correcto na sua avaliação às reformas financeiras de 2010, conhecidas como as reformas "Dodd-Frank". Esta legislação e os regulamentos que se seguiram encaminharam alguns dos problemas na direcção certa. "Mas dados os enormes custos que estariam associados a outra crise financeira e dada a falta de certeza sobre se estas novas ferramentas seriam eficazes na sua gestão", argumenta, "acredito que devemos considerar seriamente opções mais ousadas e mais significativas".

 

Kashkari propõe agora a abordagem correcta: realizar conferências públicas e discussões extensas, de modo a avaliar se os grandes bancos devem ser divididos, se estes (e outras instituições financeiras) deveriam ser forçados a financiar-se com mais capital e menos dívida, ou se deveria existir um imposto sobre a dívida para desencorajar a alavancagem excessiva. A primeira conferência será a 4 de Abril (eu serei um dos oradores).

 

Kashkari é apenas um dos 12 presidentes de delegações regionais da Fed. E tem assento no Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla anglo-saxónica), que define a política monetária, mas não no Conselho de Governadores do Sistema da Reserva Federal, que supervisiona a regulação bancária. Ainda assim, o seu apelo a uma avaliação ao problema dos TBTF terá grande impacto por três razões.

 

Primeiro, os pontos de vista que expressa são inteiramente sensíveis e de acordo com a opinião generalizada, sendo baseados na profunda experiência (sua e de outros) com esta e outras crises financeiras. Numa posição de autoridade, Kashkari está a apresentar uma mensagem que muitas pessoas sensatas tentaram transmitir durante quase uma década.

 

Em segundo lugar, Kashkari articulou – numa adequada linguagem de banco central - precisamente o mesmo ponto de vista que os candidatos presidenciais democratas estão a apresentar ao eleitorado. Hillary Clinton tem um plano bem pensado e detalhado para a reforma financeira, com ênfase na tributação da alavancagem e no aumento das exigências de capital. Bernie Sanders preferiria acabar com os bancos. Mas o objetivo é o mesmo. E como Kashkari salienta, qualquer uma destas ferramentas poderá, potencialmente, levar-nos a um lugar melhor.

 

Quando republicanos e democratas razoáveis começam a convergir em políticas, torna-se mais provável que tenhamos uma mudança sensata.

 

Em terceiro lugar, o momento de Kashkari coincide com a chegada de novas tecnologias de blocos de dados ("blockchain"), o que torna possível organizar transações financeiras de forma mais descentralizada. Várias versões desta tecnologia ou já estão disponíveis, ou estão em desenvolvimento - e há uma possibilidade muito real de que isso reduzirá os custos de transação em grande parte do sector financeiro.

 

Ainda não sabemos qual a versão que irá prevalecer e há uma discussão activa sobre como será garantido que as novas normas e sistemas aumentarão a estabilidade, em vez de (como acontece com algumas inovações financeiras já existentes) produzir consequências desagradáveis não intencionais.

 

Ainda mais importante é que a tecnologia de blocos de dados tem potencial para reduzir substancialmente, ou mesmo eliminar, a importância de ser um intermediário de confiança, como um grande banco. E, ainda assim, os grandes bancos estão a investir dinheiro nesta tecnologia - presumivelmente na esperança de salvar, pelo menos, uma parte dos seus negócios, limitando o grau de descentralização.

 

Kashkari irá liderar o caminho na reavaliação - e, esperemos, na conclusão - do problema de TBTF nos tradicionais grandes bancos. Num mundo de blocos de dados, ele e os seus colegas estão provavelmente a trabalhar arduamente para evitar que qualquer género de TBTF reapareça.

Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor de White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: André Tanque Jesus

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