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03 de Outubro de 2017 às 14:00

O que Porto Rico precisa

Esta é uma oportunidade perfeita para Trump se aproximar dos democratas e demonstrar que ambos os lados podem cooperar na reconstrução e actualização das infra-estruturas essenciais do país.

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O presidente Donald Trump e o Congresso dos EUA estão a ser alvos de uma pressão crescente para aumentar a assistência a Porto Rico. A devastação provocada pelo furacão Maria só agravou os graves problemas de longa data resultantes da falta de manutenção da infra-estrutura crítica da ilha. Porto Rico precisa de mais do que assistência de curto prazo (embora isso também seja urgente); precisa de apoio bipartidário para se reconstruir, com um foco essencial num fornecimento mais robusto e mais barato de electricidade.

 

A rede eléctrica existente colapsou, quase na totalidade, com a Administração Federal de Gestão de Emergência (FEMA) a estimar que até 90% do sistema de transmissão possa ter sido destruído pelo furacão. Uma grande barragem está em risco. Os danos na infra-estrutura de controlo de tráfego aéreo limitaram seriamente os voos de e para a ilha. Como o governador Ricardo Rosselló declarou publicamente, há agora um risco real de um grande desastre humanitário. Estão a chegar doações à região, mas o total será pequeno em relação ao que é necessário.

 

A administração Trump diz que a FEMA está a trabalhar árdua e eficazmente. Esperemos que estejam certos. Haverá muitas dúvidas sobre se os cerca de 3,4 milhões de cidadãos norte-americanos de Porto Rico recebem o mesmo apoio que os do Texas e Flórida (e outras regiões dos 50 estados) quando ocorrem catástrofes naturais. Mas a maior questão é a seguinte: o que é que será feito - e por quem – para ajudar Porto Rico a recuperar realmente?

 

Porto Rico - um território dependente dos EUA - precisa de um grande investimento na sua infra-estrutura essencial para levar aquele território, pelo menos, para o mesmo nível dos 50 estados. Depois de a situação humanitária estabilizar, os responsáveis políticos devem concentrar-se em fornecer a Porto Rico uma energia eléctrica estável, confiável e eficiente ao nível dos custos, gerada principalmente por fontes renováveis e distribuída por uma rede inteligente e resiliente. Assegurar a disponibilidade de energia será indispensável para a estabilidade e o crescimento económico sustentado.

 

Dar simplesmente apoios a uma infra-estrutura antiquada não será eficaz. Electricidade mais barata e mais resiliente beneficia toda a gente - desde o vendedor de rua até às operações farmacêuticas mais sofisticadas. E toda a tecnologia necessária para a fornecer está disponível nos EUA hoje.

 

Ironicamente, a Autoridade de Energia Eléctrica de Porto Rico (PREPA), o fornecedor falido de energia daquele território, tem sido eficaz na construção da sua própria concorrência. Os preços da electricidade na ilha são mais altos do que em qualquer outro lugar nos EUA (excepto no Havai) e o serviço não é confiável. Como resultado, um número cada vez maior de clientes tem rejeitado as ofertas da PREPA, dependendo, em vez disso, dos seus próprios geradores a diesel.

 

Noel Zamot, coordenador de Revitalização no Conselho de Supervisão e Administração Financeira de Porto Rico, sugeriu que fosse projectada uma rede inteligente e resiliente que dependesse de uma geração distribuída para mitigar o impacto de futuras catástrofes naturais ou ataques humanos. As unidades de geração de energia mais pequenas e mais ágeis estariam ligadas a um sistema sofisticado de monitorização e controlo para assegurar a geração imediata após interrupções.

 

Além disso, pelo menos 50% de toda a energia poderia ser proveniente de fontes renováveis (como a energia solar e eólica), inclusive através do uso de tecnologias de armazenamento avançadas, algumas das quais estão actualmente em desenvolvimento. A maior parte das linhas de transmissão de longa distância seria blindada ou enterrada, e uma estratégia de informação com recurso a sensores detectaria perdas, independentemente da sua origem.

 

Uma rede deste tipo estabilizaria os preços para as empresas existentes, reduzindo provavelmente aquele que é o maior custo para a maioria das pequenas e médias empresas. E criaria condições para cenários futuros verdadeiramente inovadores. Imagine-se Porto Rico a tornar-se a capital mundial dos carros eléctricos, com postos de carregamento bem distribuídos, emissões quase nulas e um sistema de partilha de automóvel para o sector do turismo. Porto Rico poderia até tornar-se um exportador de energia, fornecendo o excesso de capacidade a vizinhos próximos nos EUA e Ilhas Virgens Britânicas.

 

Tudo isto (com excepção do armazenamento em larga escala para as renováveis) é alcançável com a tecnologia existente. As principais questões são estratégicas, organizacionais e regulatórias. Com o apoio do governo e uma compreensão da estrutura de governação adequada e dos processos para uma regulação eficaz, essa visão poderia ser executada na próxima década. E construir essa rede permitiria a criação de muitos bons empregos.

 

O papel do governo federal deve ser fazer de Porto Rico um centro para investir em energia limpa e renovável que seja resiliente aos choques climáticos. As novas tecnologias resultantes desse investimento podem ser comercializadas e vendidas a um mundo que está a lutar para se adaptar às alterações climáticas e ao clima extremo.

 

A administração Trump teria dificuldades em aprovar no Congresso um pacote de investimentos de longo prazo deste tipo só com o apoio republicano; certamente seriam levantadas várias objecções ideológicas. Mas esta é uma oportunidade perfeita para Trump se aproximar dos democratas e demonstrar que ambos os lados podem cooperar na reconstrução e actualização das infra-estruturas essenciais do país.

 

Simon Johnson é professor da Sloan School of Management do MIT e o co-autor de White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You.

 

Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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