Opinião
Combater a Resistência Antimicrobiana com o FMI
No encontro do G20 em Hamburgo, na Alemanha, em Julho, os governos acordaram criar um "Hub para a Colaboração na Pesquisa e Desenvolvimento" e acordaram eliminar os antibióticos da agricultura – os produtores usam-nos para promover o crescimento animal.
Em Setembro, comemorou-se o primeiro aniversário do encontro de Alto Nível sobre a Resistência Antimicrobiana (AMR na sigla em inglês), promovido pelas Nações Unidas e que o organismo independente britânico Review on AMR ajudou a promover. Esse momento, no ano passado, foi muito gratificante para mim, enquanto chairman do Review, bem como para a minha equipa e para a directora médica executiva do Reino Unido, Sally Davies.
Foi determinado no encontro de Alto Nível do ano passado que os delegados dos Estados-membros voltariam a encontrar-se dois anos depois – ou seja em Setembro de 2018 - para avaliar os progressos alcançados. Foi também pedido que fosse formado um grupo de coordenação interorganismos para orientar os esforços na luta contra a AMR durante este período de dois anos. De acordo com a informação que recolhi, o grupo está a ser liderado por indivíduos profundamente empenhados na questão. E os políticos, tanto ao nível nacional como internacional, começaram a prestar mais atenção à ameaça que a AMR representa.
De facto, desde o encontro de Alto Nível das Nações Unidos, que o G20 fez compromissos notáveis na luta contra a AMR. No encontro do G20 em Hamburgo, na Alemanha, em Julho, os governos acordaram criar um "Hub para a Colaboração na Pesquisa e Desenvolvimento" e acordaram eliminar os antibióticos da agricultura – os produtores usam-nos para promover o crescimento animal.
O UK Review recomendou que fossem dados mais 2 mil milhões de dólares à investigação inicial sobre a AMR, por isso, a criação de um hub de pesquisa e desenvolvimento é muito bem-vinda. Mas o acordo para limitar o uso de antibióticos na agricultura foi ainda mais importante. No passado, os principais Estados-membros do G20 resistiram em assumir tais compromissos. E nos textos que serviram de base para o Encontro de Alto Nível das Nações Unidas, a agricultura não foi sequer mencionada, devido aos receios de que fosse provocar a morte de qualquer acordo à nascença.
Os passos que as Nações Unidas e o G20 deram são encorajadores. Mas a luta contra a AMR é dura e provavelmente está ainda a começar. Olhando para o futuro, um dos maiores desafios vai ser responsabilizar individualmente os países e as organizações multilaterais, como a própria ONU. Como vamos saber se os governos e instituições seguiram as suas declarações solenes?
Para começar, podemos olhar para o cruzamento entre a economia e a saúde pública. Há muitas maneiras das instituições internacionais usarem as alavancas da política económica para reduzir significativamente as probabilidades de um surto de doenças infecciosas e aumentar a resiliência dos países que estão vulneráveis a tais riscos.
Para mim, o Fundo Monetário Internacional (FMI) devia liderar este assunto. Como mostrou Peter Sands e os seus colegas num estudo de Maio de 2016, o The Lancet, os surtos de doenças infecciosas têm custos económicos de longo alcance e, ainda assim, raramente são - se é que alguma vez são - tidos em conta na avaliação dos riscos macroeconómicos. O FMI já conduz regularmente revisões à saúde económica dos países e os mercados financeiros dão um peso significativo às suas análises. Pelo bem da economia e da saúde pública, o FMI faria bem em começar também a acompanhar o progresso dos países na luta contra a AMR.
Há mais de dez anos, a União Europeia declarou que ia eliminar por completo o uso de antibióticos para a promoção do crescimento animal. Mas quem, além dos jornalistas de investigação, alguma vez mergulhou no progresso dos Estados-membros em relação a esse objectivo?
No Reino Unido, eu e os meus colegas da Review estamos muito impressionados pela resposta política do governo às nossas recomendações, em especial no que diz respeito à redução das prescrições de antibióticos, evitando infecções adquiridas em hospitais, e à limitação do uso de antibióticos na agricultura para 50 miligramas por quilo.
Durante o último ano, dei palestras públicas em algumas universidades britânicas que estão activamente a trabalhar na ameaça que é a AMR. Tenho visto agora mais académicos a abordar este tema do que no passado. Mas quando questiono a minha audiência, tomo consciência que poucas são as pessoas que sabem alguma coisa sobre a resposta política do governo a este tema. Isto pode significar que as minhas audiências simplesmente estão mal informadas, mas duvido. O que é mais provável é que o governo não tenha ainda dado seguimento aos seus compromissos.
O FMI está preparado para ir ao fundo desta questão, como parte das suas avaliações económicas rotineiras. E as suas análises seriam ainda mais valiosas para os países menos ricos, onde prevenir surtos de doenças infecciosas pode impulsionar o crescimento económico de longo prazo.
Uma preocupação que tenho com a passagem deste primeiro aniversário do Encontro de Alto Nível das Nações Unidas é que os políticos continuam a precisar de encontrar uma fonte de financiamento para as recompensas pelo acesso ao mercado que têm como objectivo impulsionar o desenvolvimento de novos medicamentos e diagnósticos. Tais inovações vão ser cruciais para prevenir e detectar AMR e um será um mecanismo de incentivo para estimular os políticos no sentido de que é este o caminho a seguir. Este também é um tópico no qual o FMI pode dar um aconselhamento valioso.
Jim O’Neill, ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management, é professor honorário de Economia na Universidade de Manchester e antigo presidente da revisão sobre a Resistência Antimicrobiana do governo britânico.
Copyright: Project Syndicate, 2017.
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Tradução: Ana Laranjeiro