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22 de Abril de 2015 às 19:00

A transformação digital da Europa

A Europa está a viver uma transformação tecnológica sem precedentes. Chama-se a "Internet de Tudo": a penetração da World Wide Web na vida quotidiana. A tecnologia vai dizer-nos se estamos a dormir bem e se precisamos de fazer exercício. Os sensores na rua vão ajudar-nos a evitar as filas do trânsito e a encontrar estacionamento. As aplicações de telemedicina vão permitir aos médicos tratar os pacientes que estão a centenas de quilómetros de distância.

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Esta enorme transição vai transformar a forma como os cidadãos interagem com os seus governos, vai revolucionar indústrias inteiras e transformar a forma como nos relacionamos uns com os outros. Na Europa, a Internet de Tudo apresenta-se como a forma mais promissora para revitalizar uma economia moribunda e lidar com o problema do desemprego do continente, com as empresas, cidades e mesmo países a posicionarem-se como líderes na inovação, crescimento e criação de postos de trabalho.

 

O exemplo mais recente é a França. Em Fevereiro, o primeiro-ministro, Manuel Valls, e eu anunciámos uma parceria ambiciosa para promover uma transformação digital em todo o país. O acordo, que inclui um investimento de 100 milhões de dólares da Cisco em "start-ups" francesas, pode transformar a gestão da energia, cuidados de saúde e educação – o que impulsiona a competitividade económica, a criação de postos de trabalho, o dinamismo e o crescimento da França.

 

O programa da França é um grande passo em direcção a uma Europa digital, que se soma à iniciativa Industrie 4.0 da chanceler alemã Angela Merkel e aos planos do Reino Unido de ampliar os seus centros de inovação para fomentar avanços tecnológicos e soluções pioneiras na energia, transporte, cuidados de saúde e educação.

 

Diversas cidades também estão a abraçar a digitalização. Barcelona adoptou uma estratégia Smart City que inclui a instalação de sensores de estacionamento subterrâneos e um sistema de transportes públicos conectados. Nice construiu uma "avenida conectada", incluindo iluminação inteligente e monitorização ambiental. E o porto de Hamburgo tem um sistema digital para reduzir o trânsito naval, ferroviário e terrestre.

 

Projectos como estes multiplicam-se por todo o continente e geram milhares de milhões de dólares na forma de redução de custos, melhor produtividade e maiores receitas. Como resultado, além de oportunidades de crescimento, os líderes da Europa vêem a necessidade de não ficar para trás.

 

Para criar uma Europa verdadeiramente digital são necessárias ligações de banda larga de alta velocidade e qualidade, quer com quer sem fios. Os governos europeus adoptaram uma Agenda Digital que inclui o objectivo de ligar 50% dos lares europeus a serviços de banda larga super rápida (100 mbps ou mais) até 2020. Também pretendem que todas as casas tenham conexões de banda larga (pelo menos 30 mbps) nesta altura. Estes objectivos merecem um compromisso firme e os responsáveis políticos devem continuar a encorajar grandes investimentos em banda larga e na infra-estrutura da qual dependem os dispositivos móveis que hoje são uma ferramenta habitual das nossas vidas.

 

Claro, a Europa também deve encorajar os empreendedores, o que requer criar uma cultura de tomada de riscos, facilitar o acesso a capitais interessados em novos empreendimentos e investir em instituições educativas sólidas. Já muitos países o estão a fazer, pelo que bem pode acontecer que a próxima tecnologia disruptiva não saia Silicon Valley; mas de um laboratório em Paris, Londres ou Berlim.

 

No longo prazo, a Europa vai precisar de uma força de trabalho capacitada para carreiras na nova economia digital. Estima-se que a Europa vai ter um diferencial de capacidades tecnológicas que, para ser preenchido, permitiria a criação de 850 mil postos de trabalho em 2015 e o dobro em 2020. Num continente onde o desemprego jovem supera os 50% em alguns países, não faltarão jovens e outras pessoas interessadas que possam desempenhar esses trabalhos, se receberem a formação adequada.

 

Este diferencial não pode ser resolvido de um dia para o outro, mas os países que não fazem nada para o superar correm o risco de ficar atrasados. Alargar a lista de talentos de forma suficiente vai requerer um compromisso geracional com o ensino de matemática e ciência, programas de formação técnica e dar a jovens de interesses muito diversos orientação sobre a enorme variedade de possibilidades que oferece uma carreira tecnológica.

 

No avanço da Europa pela estrada da transformação digital, as possibilidades de crescimento são imediatas e significativas. O continente já é o principal bloco económico do mundo, com um PIB que ascendeu a 14 biliões de euros (15,2 biliões de dólares) em 2014. Mas o seu crescimento tem diminuído. A Comissão Europeia estima – de forma conservadora, na minha opinião – que a revolução digital pode estimular um "crescimento adicional de 2,1% do PIB sobre a base".

 

A Internet de Tudo também será um motor chave da criação de emprego. Apenas os avanços na nuvem podem criar mais 2,5 milhões de postos de trabalho na Europa até 2020. A transformação digital vai trazer oportunidades e criar novos tipos de trabalho: responsáveis pelo desenvolvimento de sistemas, engenheiros da rede de transporte, consultores de dispositivos médicos, analistas de dados, engenheiros eléctricos para redes de distribuição inteligentes e muitos mais.

 

Na hora de delinear o rumo económico da Europa para a próxima década, os seus líderes devem colocar a transformação digital como base da sua estratégia. Isso vai permitir criar uma Europa mais forte, mais rápida, mais dinâmica – e também mais digital.

 

John Chambers é presidente do Conselho de Administração e presidente-executivo da Cisco.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org

Tradução: Raquel Godinho

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