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01 de Julho de 2015 às 20:00

A subida irresistível do renminbi

No final deste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai decidir se o chinês renminbi vai juntar-se ao euro, ao iene japonês, à libra britânica e ao dólar norte-americano no cesto de moedas que determinam o valor das reservas internacionais de activos, o Direito de Saque Especial (Special Drawing Right – SDR - em inglês).

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A China está a pressionar de forma considerável para a inclusão do renminbi. Deve ser admitido?

 

O FMI criou o SDR em 1969 para completar as reservas em moeda existentes. E por conseguinte dar ao sistema financeiro mundial liquidez adicional. Como está, o papel actual do SDR continua amplamente limitado pelas operações do FMI; a sua percentagem nos mercados financeiros mundiais e as reservas internacionais dos bancos centrais são inegáveis. Contudo, adicionar o renminbi ao cesto do SDR seria importante em termos simbólicos, implicando o reconhecimento do estatuto mundial crescente da China. O renminbi é já uma moeda grande para o comércio mundial e para o investimento e representa uma percentagem crescente nas transacções financeiras internacionais e reservas.

 

Para qualificar-se para a inclusão, o Governo chinês aliviou os controlos de capital e liberalizou consideravelmente os seus mercados financeiros. A inclusão no cesto do SDR exigirá uma continuação deste processo, o que, em conjunto com a emergência do renminbi como uma moeda mundial de investimento, iria beneficiar toda a economia mundial.

 

Os principais accionistas do FMI – Estados Unidos, Europa e Japão – devem dar as boas-vindas à inclusão do renminbi no cesto do SDR. Ainda assim, as opiniões sobre esta questão têm estado divididas, com os Estados Unidos em particular a mostrarem relutância em dar as boas-vindas à China neste conjunto.

 

Tudo isto é mais problemático dado que a crise financeira de 2008 mostrou a inadequação do sistema de reservas internacional quando se trata de assegurar liquidez suficiente para as economias emergentes. Ainda que as economias emergentes tenham acumulado desde então amplas reservas de moeda estrangeira e tenham fortalecido a supervisão e a regulação financeira, estes países continuam vulneráveis a choques externos, especialmente dos Estados Unidos, da Zona Euro e do Japão. Os três têm aplicado recentemente políticas monetárias expansionistas; e, à medida que a Reserva Federal normaliza a sua política, as economias emergentes vão ser afectadas novamente por uma repentina retirada mundial de liquidez.

 

Esta vulnerabilidade contínua reflecte um falhanço colectivo para reformar o sistema monetário global- um imperativo que o Governador do Banco Popular da China (PBOC, na sigla inglesa) Zhou Xiaochuan destacou no início de 2009. Para a proposta de Zhou, a China defendeu a transicção para um sistema de reservas multi-moeda, o que a SDR e um renminbi internacionalizado seria usado de forma mais ampla, incluindo nas reservas em moeda dos países. Mas a sua tentativa em 2010 para juntar a sua moeda ao cesto do SDR falhou porque o renminbi não era "usado de forma livre".

 

Desde então, a China implementou uma série de reformas para aumentar o uso de renminbi no comércio externo e no investimento directo, bem como, investimento financeiro transfronteiriço. Catorze bancos foram estabelecidos pelo mundo. No ano passado, "Shanghai- Hong Kong Stock Connect" (um canal de investimento entre Shanghai Stock Exchange e a Hong Kong Stock Exchange) foi lançado para estimular o investimento transfronteiriço e o desenvolvimento do mercado de capitais. E a China assinou acordos bilaterais para a troca de moedas com 28 bancos centrais, incluindo com o Banco Central do Brasil, com o Banco do Canadá, com o Banco Central Europeu e com o Banco de Inglaterra.

 

Este ano, os políticos chineses sinalizaram mais liberalização financeira ao retirar os limites nacionais às taxas de depósitos nos bancos e por conseguinte dando aos investidores institucionais estrangeiros acesso mais fácil aos mercados de capitais. O PBOC provavelmente vai também ampliar a troca cambial e direcionar-se no sentido de um regime mais flexível de taxas de câmbio.

 

Em resultado destes esforços, o renminbi surgem em segundo lugar das moedas mais usadas nas transacções financeiras, ultrapassando o euro, e como a quinta moeda mais usada nos pagamentos internacionais. Além disso, é cada vez mais escolhida nas transacções dos mercados cambiais e nas reservas externas oficiais.

 

Claro que a China pretende ganhar muito com a emergência do renminbi como uma alternativa internacional no que diz respeito às reservas cambiais, usufruindo "exorbitantes privilégios" que a moeda dos Estados Unidos beneficia em virtude do estatuto global do dólar. A China seria capaz de tirar vantagens da cunhagem – segura através do conhecimento que não irá enfrentar uma crise na balança de pagamentos.

 

Mas para alcançar esse ponto, a China tem de enfrentar riscos significativos. Uma liberalização da conta de capital e uma internacionalização do renminbi convidam a fluxos de capital transfronteiriços potencialmente voláteis o que poderá, por exemplo, levar a uma rápida apreciação da moeda. Dado isto, a China poderá esperar continuar a gerir transacções na conta de capital até a algum nível, utilizando medidas macroprudenciais e, quando apropriado, controlos de capital directos.

 

Mesmo que a China consiga gerir alguns riscos, destituir o dólar norte-americano do posto de moeda mundial dominante não vai ser fácil. A inércia favorece as moedas que estão já são internacionais e à China falta-lhe mercados financeiros profundos e líquidos, uma pré-condição importante que qualquer moeda de reserva tem de cumprir. Além disso, o sistema bancário chinês, que continua a estar sujeito um amplo controlo governamental, tem um grande desfasamento em relação aos Estados Unidos e à Europa em termos de eficiência e transparência.

 

Contudo, se a China for bem-sucedida em desenvolver uma conta de capital mais convertível e impulsionar a eficiência do sistema financeiro, o renminbi provavelmente vai emergir como uma nova moeda de reserva internacional, complementar ao dólar e ao euro. Isto iria beneficiar tanto as empresas como os bancos centrais, permitindo-lhes diversificar ainda mais as suas participações em moedas estrangeira.

 

A história sugere que uma mudança no domínio mundial das moedas provavelmente vai ocorrer gradualmente. Por agora, a China está focada em conseguir a inclusão do renminbi, mesmo com uma pequena percentagem no cesto SDR. Os principais accionistas deveriam considera-lo seriamente. A contínua internacionalização do renminbi, para não falar os progressos nas reformas financeiras críticas, contribuiriam para a criação de um sistema mundial de reservas mais estável e eficiente.

 

Lee Jong-Wha, professor de Economia e director do Asiatic Research Institute da Universidade da Coreia, foi um assessor para os assuntos económicos internacionais do antigo presidente Lee Myung-bak da Coreia do Sul. 

 

© Project Syndicate, 2015.

www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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