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23 de Junho de 2015 às 20:00

A revolução da energia verde da China

A China produz grande parte da sua energia eléctrica através de combustíveis fósseis, como fizeram todas as potências económicas em ascensão desde a Revolução Industrial. Contudo, centrar-se apenas neste factor arrisca ignorar uma tendência relevante. O sistema chinês de produção de energia está a tornar-se ecológico – muito mais rapidamente do que qualquer outro sistema de dimensão comparável no planeta.

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Esta tendência é visível em três áreas. A primeira é a produção de electricidade. De acordo com os dados divulgados pelo Conselho de Electricidade da China, a quantidade de energia produzida no país a partir de combustíveis fósseis em 2014 diminuiu 0,7% face ao período homólogo, o que representa a primeira queda recente. Ao mesmo tempo, a produção de energia a partir de combustíveis não fósseis aumentou 19%.

 

Convém assinalar que a energia nuclear representou um papel menor nesta mudança. A electricidade produzida a partir de fontes estritamente ecológicas – hidráulica, eólica e solar – aumentou em 20% e, entre elas, a solar foi a fonte que teve o maior crescimento e aumentou uns impressionantes 175%. A energia solar também ultrapassou a nuclear em termos de nova energia produzida, visto que no ano passado contribuiu com 17,43 terawatts-hora, em comparação com os 14,70 terawatts-hora da energia produzida a partir de fontes nucleares. Além disso, pelo terceiro ano consecutivo, a China produziu mais electricidade eólica que energia nuclear. É por isso que o argumento de que a China será dependente das centrais nucleares para produzir energia sem utilização de carbono parece ter pouco fundamento.

 

A segunda área onde a mudança ecológica se torna mais evidente é a capacidade total de geração de electricidade da China. O sistema de energia do país é agora o maior do mundo, com capacidade de produção de 1,36 terawatts, em comparação com um terawatt dos Estados Unidos.

 

As comparações directas das diferentes fontes de produção de energia são difíceis, porque a utilização de recursos eólicos, solares, nucleares e de combustíveis fósseis varia de acordo com a hora do dia. Contudo, os dados anuais podem oferecer uma ideia de como todo o sistema está a mudar.

 

O ano passado foi o segundo ano consecutivo em que a China utilizou mais combustíveis não fósseis do que combustíveis fósseis para aumentar a sua capacidade de geração de energia. A China aumentou a sua capacidade de geração de electricidade com combustíveis fósseis em 45 gigawatts, alcançando um total de 916 gigawatts. Ao mesmo tempo, aumentou a sua capacidade para produzir electricidade a partir de combustíveis não fósseis em 56 gigawatts, atingindo assim um total de 444 gigawatts. As fábricas de energia eólica, hidráulica e solar aumentaram a capacidade de geração em 51 gigawatts.

 

Como resultado, a energia eólica, hidráulica e solar representam 31% da capacidade total de geração de electricidade da China, mais 21% do que em 2007, enquanto a energia nuclear representa outros 2%. Estes resultados superam as metas estabelecidas pela China no 12.º Plano de Cinco Anos, cujas previsões de capacidade de geração de energia a partir de combustíveis não fósseis eram de cerca de 30% do sistema de electricidade do país para 2015.  

 

Finalmente, a tendência de mudança para a energia ecológica pode ser vista nos padrões de investimento chineses. A evidência é clara: o país está a investir mais em fontes ecológicas de energia eléctrica do que naquelas que dependem de combustíveis fósseis. De facto, a China está a gastar mais em energia ecológica do que qualquer outro país.

 

O investimento em instalações de produção de energia a partir de combustíveis fósseis tem descido de forma consistente, dos 167 mil milhões de yuans (cerca de 24 mil milhões de dólares) em 2008 para 95 mil milhões de yuans (15,3 mil milhões de dólares) em 2014, enquanto o investimento em fontes de combustíveis não fósseis aumentou de 118 mil milhões de yuans em 2008 para pelo menos 252 mil milhões de yuans em 2014. A proporção do investimento em energia dirigida à geração eléctrica renovável aumentou de forma estável, atingindo 50% em 2011, acima dos 32% apenas quatro anos antes. Em 2013, a quota do investimento em fontes renováveis chegou a pelo menos 59%.

 

Muito depende do sucesso das reformas energéticas da China e, em particular, dos seus esforços para construir o maior sistema de energia renovável do mundo – uma ambição de longe maior do que qualquer coisa que se tenha imaginado, e muito menos tentado, no Ocidente. Por isso é muito importante que haja relatórios precisos sobre o sistema à medida que se desenvolve, a fim de compreender a direcção da mudança.

 

O sistema de energia da China continua a basear-se em grande medida no carvão e ainda será consumido muito antes de que possa dizer-se de forma precisa que é mais verde do que negro. Mas a direcção da mudança é clara. Isso deve ser reconhecido – e tido em conta nas discussões sobre a energia mundial e sobre a política energética.

 

John A. Mathews é professor de Estratégia na Macquarie Graduate School of Management em Sidney. Hao Tan é professor na Newcastle Business School, Universidade de Newcastle, Austrália.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015. 
www.project-syndicate.org
Tradução: Raquel Godinho

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