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27 de Dezembro de 2012 às 00:01

O longo caminho da Ásia

O próximo ano vai apresentar desafios significativos e novas responsabilidades - políticas, económicas e sociais - para o desenvolvimento da Ásia. O caminho para o desenvolvimento sustentável e para o crescimento económico inclusivo será difícil, mas também implicará grandes oportunidades para a Ásia e para o resto do mundo.

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O próximo ano vai apresentar desafios significativos e novas responsabilidades - políticas, económicas e sociais - para o desenvolvimento da Ásia. O caminho para o desenvolvimento sustentável e para o crescimento económico inclusivo será difícil, mas também implicará grandes oportunidades para a Ásia e para o resto do mundo.

Cinco anos depois da Grande Recessão, a recuperação permanece indefinida nas economias avançadas. Os líderes europeus têm de tomar decisões difíceis a fim de resolver a crise do euro e retomar o crescimento. E, embora os Estados Unidos estejam a começar a mostrar sinais de recuperação económica, o país enfrenta um impasse político sobre o chamado "precipício orçamental". Apesar de os principais indicadores poderem ser mais fortes do que eram há um ano, os riscos têm-se intensificado.

Na Ásia, a prudência orçamental permitiu as medidas de estímulo necessárias para relançar o crescimento económico global em 2010. Mas a transformação económica que tem ocorrido ao longo das últimas décadas chegou a uma encruzilhada. Apesar de algumas economias continuarem a avançar, os anos de crescimento de dois dígitos do PIB é pouco provável que continuem - particularmente na China e na Índia -, devido ao ambiente externo anémico, juntamente com as fraquezas internas.

A Ásia precisa de se adaptar a uma nova era de crescimento mais moderado, tendo em atenção a desigualdade generalizada e a melhoria da sustentabilidade. A expansão económica sem precedentes, que tirou milhões de pessoas da pobreza, tem sido acompanhada por crescentes disparidades de rendimentos, bem como danos ambientais graves. Como resultado, a Ásia tem agora duas faces: uma classe média próspera e crescente, e aqueles que ainda têm de beneficiar do rápido desenvolvimento económico da região - e cuja saúde e bem-estar está a ser afectada por graves problemas, como a poluição do ar e da água.

Em resumo, os principais desafios da Ásia, actualmente, são sustentar o crescimento económico – a uma taxa baixa, mas ainda assim, invejável - e melhorar a sua qualidade. A Ásia precisa de um crescimento forte, verde, inclusivo, e guiado pelo conhecimento, o que implica a necessidade de reequilibrar as fontes de dinamismo económico para estimular a procura doméstica, regional e inter-regional.

As relações económicas com o Ocidente não seriam diluídas por esta mudança. Assim como o Ocidente forneceu exportações e conhecimentos para reforçar a expansão económica da Ásia, também a Ásia oferece oportunidades para as economias avançadas transformarem os seus modelos de crescimento e lidarem com os desafios da globalização. Na verdade, o próximo ano marca um momento seminal para o desenvolvimento da Ásia no que diz respeito ao avanço da sua própria agenda, que, por sua vez, dará às economias desenvolvidas a flexibilidade e as oportunidades de que precisam para cumprir o seu próprio potencial económico.

Para todo o processo ser bem sucedido, os líderes da Ásia não devem permitir distracções diplomáticas - incluindo disputas territoriais na região, que se intensificaram em 2012 - para destabilizar ainda mais um ambiente que é já de incerteza económica e geopolítica. Dadas as actuais incertezas económicas a nível global, não há espaço para este tipo de perturbação. A perpetuação da volatilidade geopolítica poderá atrasar, se não mesmo impedir, o surgimento de uma nova Ásia.

Neste contexto, os líderes asiáticos que ascenderem ao poder em 2013 - por exemplo, na China, Japão e Coreia do Sul - devem dar prioridade ao reforço da cooperação regional económica e política. Tais relações serão ainda mais cruciais se as condições económicas globais se deteriorarem. As disputas políticas não podem dificultar os ajustamentos necessários para garantir o desenvolvimento sustentável a longo prazo.

E são vários os ajustamentos. Durante as duas últimas décadas, o "boom" económico da Ásia foi, em grande parte, impulsionado pelas ligações intra-regionais de produção, em que os bens intermediários foram provenientes de dentro da Ásia, para a montagem de bens finais e subsequente exportação para mercados desenvolvidos - ganhando a região o apelido de "fábrica da Ásia". Mas a desaceleração global prolongada acentuou os riscos da excessiva dependência das exportações. A fim de assegurar a estabilidade a longo prazo, a Ásia deve encontrar novas fontes de crescimento, aumentar a produtividade, e melhorar a eficiência.

Expandir as ligações comerciais e de investimento "Sul-Sul" poderá aumentar o potencial de crescimento da região e contribuir para a estabilidade económica global, promovendo o reequilíbrio mundial. Para facilitar isso, o desenvolvimento da Ásia deve focar-se na redução das barreiras ao comércio interno e ao investimento, e continuar a promover a integração regional e global.

O desenvolvimento do sector dos serviços também é crucial. Com os salários nas indústrias a aumentar e a intensidade de trabalho a diminuir, a Ásia precisa de confiar mais nos serviços para criar empregos para os milhões de pessoas que se juntam à força de trabalho todos os anos. Embora não seja necessário muito investimento para actualizar o sector de serviços, o desmantelamento da regulamentação excessiva vai exigir uma forte vontade política.

Além disso, os desastres naturais recentes têm acentuado a importância da resiliência climática como um meio para melhorar a qualidade de vida. A protecção dos mais pobres e a gestão da migração urbana seria uma grande ajuda, mas requer uma conjugação subtil de inovação e coragem pública. As medidas devem incluir a emissão de títulos de terra, a remoção dos chamados "slumlords" (proprietários que adquirem as terras nos bairros pobres e fazem um investimento mínimo em gestão e manutenção), e a prestação de serviços básicos.

A transformação em curso da Ásia - enraizada na convicção de que o crescimento mais equitativo, inclusivo, e guiado pelo conhecimento irá ajudar a reduzir a pobreza e a oferecer uma maior prosperidade aos seus cidadãos - requer um compromisso de curto prazo para mitigar qualquer desaceleração económica global causada por novos choques. Exige também esforços específicos para reduzir os desequilíbrios globais, reequilibrando as próprias fontes de crescimento da Ásia.

Se for bem sucedida, a Ásia que emergirá desta transformação não será apenas próspera, mas também será um baluarte da paz mundial - o último bem público mundial.

Tradução: Rita Faria

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