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Vae victis!

Quando, em Roma, o imperador Calígula foi assassinado, e ninguém sabia quem lhe poderia suceder, Cláudio foi-se esconder atrás das primeiras cortinas que descobriu. A Guarda Pretoriana encontrou-o e arrastou-o. Apesar dos seus protestos, porque temia pela

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Foi aclamado como o novo imperador. Só aí suspirou de alívio. Roma é uma escola sobre a política e os seus sombrios meandros. E isso aplica-se a outros sectores da sociedade. A gestão financeira é uma actividade política através de outros meios. Olhe-se para o BCP. Se a Assembleia Geral é o seu Senado, ele serve não apenas para garantir o poder, mas para definir uma estratégia. Hoje a dúvida é: Jardim Gonçalves sucederá a Teixeira Pinto? Teixeira Pinto sucederá a si próprio e eliminará a sombra do líder que fez do BCP um império sem fronteiras? Numa Assembleia Geral ou se estabelecem alianças ou se espera que surja algum imperador suficientemente forte para guiar uma grande legião financeira.

Voltemos à história. Muitos dos 22 anos de gestão do imperador Adriano foram passados a visitar o império. Este tinha-se expandido para lá das suas capacidades materiais e humanas. Era necessário remodelar, para que o sistema continuasse a funcionar e era preciso criar um sistema de alianças interno, entre os vários sectores da elite romana. E, claro, ouviu o povo. Quando, de resto, disse a uma mulher que não tinha tempo para escutar os seus problemas, ela retorquiu: “Então não sejas Imperador.” Gerir o poder é também saber modernizar sem desprezar a memória de uma instituição. Quando, como em Roma, as purgas acabavam de forma sangrenta, o império oscilava.

É isso que parece suceder com o BCP. O cruzar público de argumentos é algo que foge ao ensinamento de Roma: a moderação e a tradição reinaram até à chegada dos poderes ditatoriais, com Júlio César. Ele e o seu adversário Pompeu tinham exércitos privados na retaguarda, que eliminavam os oponentes. Tudo isso mudou com a frieza cruel de Octávio (o imperador Augusto): com os cidadãos fartos de chacinas sucessivas, manobrou para ter todo o poder nas suas mãos e criou um único exército dependente do Estado. Conseguiu mesmo convencer os cidadãos que o poder democrático tinha sido restaurado. O BCP não é Roma, nem Jardim Gonçalves ou Teixeira Pinto são alguns dos seus mais conhecidos imperadores. Mas há uma questão fulcral: quando as mudanças eram sangrentas não era porque as elites tinham deixado de confiar no líder. Era porque tinham perdido a esperança. Na política, como no sector económico e financeiro, a esperança é a maior aliada do poder. O BCP não tem tempo para a hibernação. As legiões romanas preferiam a luta quando o tempo estava quente. Porque, quando chegava o frio, era tempo de descanso.

O BCP, nesse aspecto, não pode perder mais tempo a contar adagas ou a forjar novas alianças. Está na hora das decisões, para que a esperança não se esvaia e o império fique à mercê das tribos que só esperam o momento certo para chegar a Roma, ultrapassando a Guarda Pretoriana. Para que ninguém diga depois, espantado como César: “Também tu, filho?”

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