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21 de Maio de 2010 às 09:45

Um governo a irs...

Num dia não muito distante, um presidente demitiu um primeiro-ministro em Portugal. Razão: "trapalhadas". O estroina Santana Lopes saiu e levou com ele a palavra. Ei-la de volta, acompanhando um apressado aumento da taxa de IRS. E não...

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Num dia não muito distante, um presidente demitiu um primeiro-ministro em Portugal. Razão: "trapalhadas". O estroina Santana Lopes saiu e levou com ele a palavra. Ei-la de volta, acompanhando um apressado aumento da taxa de IRS. E não só.

Não será fácil ser Governo quando se supõe que o mundo muda à semana. Mas mais difícil ainda é ser governado. E José Sócrates perdeu o tino. Faz, desfaz e refaz, anuncia e cancela, aponta para a esquerda e vai para a direita. Não pratica política fiscal, nem tem governação económica, não é sequer Governo. Os únicos ministros que não são desautorizados são os que estão calados. José Sócrates já não tem a cabeça em cima dos ombros, vagueia como Bertran de Born no Inferno de Dante: decapitado, com a cabeça na mão, pendurada como um lampião falante.

O aumento do IRS foi anunciado para Julho, o que provocou uma antecipação dos pedidos de subsídio de férias. Depois, admitiu-se que seria à data de Janeiro, o que seria ilegal. Ficou para Junho, daqui a dias, o que apanhou o Fisco de surpresa e precipitou o caos. E para acabar com as tosses, tributa-se 7/12 do rendimento anual, tenha ele sido recebido quando for (senhor contribuinte, à cautela, reserve já dinheiro e conte com um acerto de IRS. No próximo ano, o reembolsado será o Estado...).

A trapalhada do IRS é o caso mais evidente do desnorte. Quem investe num país assim? Nem os portugueses (senhor contribuinte, pergunte a um advogado o que lhe andam a pedir as empresas. Que lhe mudem a sede fiscal para um local menos tributado e, sobretudo, mais estável).

Mas há outros casos, como o do TGV, que evidentemente vai ser suspenso. Espanha já o anunciou ontem, o que torna a persistência do projecto português cada vez mais patética. A linha Lisboa-Madrid arrisca-se a não chegar nem a Lisboa nem a Madrid, ficando-se por uma veloz metade de linha entre algures no Poceirão e nenhures em Caia.

Os erros do passado estão a voltar à superfície, como o aumento estapafúrdio (então denunciado, senhor contribuinte, aqui e em todo o lado) dos funcionários públicos no ano passado. Como a descida do IVA antes de tempo, mas sempre mirando as eleições. Que levaram o Governo a escandalosamente omitir previsões oficiais de derrapagens na receita fiscal, como há dias denunciou o "Público".

Nas últimas semanas, Portugal perdeu soberania e ninguém se inquieta muito, o que é espantoso. Temos os credores à porta e prestamos-lhes a vassalagem dos aflitos. A moção de censura de hoje do PCP ao Governo está errada: os 230 deputados, Presidente da República, presidente da Assembleia e primeiro-ministro deviam pôr-se à frente do mesmo espelho e apresentar uma moção de censura a si mesmos. Falharam em, ao menos, manter Portugal dos portugueses. E não sentem vergonha disso.

Entregámo-nos à intervenção externa de quem também está sem norte. Os mercados "estão descontrolados", como diz o ministro alemão das Finanças. A UE está desaustinada. Quando Durão Barroso um dia disse que a Europa era um Boeing sem ninguém no cockpit, mal sabia que anos depois o Boeing continuaria sem piloto mesmo com ele a bordo.

Portugal é também um avião sem piloto, mas mais pequeno: é um Cessna, daqueles que fazem publicidade nas praias. Na faixa diz: "Sempre em festa". Dirige-se para o aeroporto na expectativa de que lá esteja o FMI (e você, senhor contribuinte, já não sabe bem se receia encontrá-lo ou se secretamente o deseja).



PS: O Negócios foi eleito o melhor diário de economia do ano e o melhor site de informação português, nos prémios Meios & Publicidade. Aos que escolhem o Negócios, o nosso obrigado.


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