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25 de Agosto de 2009 às 11:58

Um carro eléctrico chamado desejo

O Governo vai oferecer 5.000 euros na compra de um carro eléctrico. "Medidas que visam pôr no terreno o programa para a mobilidade eléctrica, com a introdução dos veículos automóveis eléctricos, com tendência para a massificação e renovação do parque...

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O Governo vai oferecer 5.000 euros na compra de um carro eléctrico. "Medidas que visam pôr no terreno o programa para a mobilidade eléctrica, com a introdução dos veículos automóveis eléctricos, com tendência para a massificação e renovação do parque automóvel", afirmou o secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação, Castro Guerra. A pergunta que faço é - e posso ser eu a escolher a cor, senhor Castro?

Compro já um se me garantirem que, com este tipo de viatura, nunca mais sou obrigado a alinhar com o dia Europeu sem carros, ou a semana da mobilidade, ou outro tipo de iniciativas destinadas a convencer as pessoas a passar a usar menos o carro e mais os transportes alternativos - a ideia é que o "pópó" fica a descansar e a pessoa vai à luta; dá imenso jeito deixar o carro em casa, porque sempre aproveita para regar as plantas.

O carrinho eléctrico meio pago pelo Governo passa a ser o meu transporte alternativo de referência, até porque, as outras propostas alternativas são, por exemplo: andar de bicicleta. Eu penso que andar de bicicleta, sim, tudo bem. Andar de bicicleta, com um capacete que parece que nos vão fazer um electroencefalograma, óculos de aviador, calções que se colam ao esfíncter externo da uretra e uma mochila com uma cor que substitui faróis, não! Mesmo para mim, que tenho pouco amor próprio, é ridículo.

E depois ainda gostam de dar a ideia de que aquilo é saudável. Seria saudável se as bicicletas viessem com uma janela para fechar e ar condicionado para ligar. Assim, trata-se apenas de abrir os pulmões para poder entrar o ar dos escapes. Os ciclistas de cidade são uma espécie de filtros (se os filtros não tivessem vergonha de usar aqueles capacetes), que ficam entre os tubos de escape dos autocarros da Carris e a janela dos confortáveis carros de quem não é saudável.

Outra hipótese alternativa é: andar a pé. Este sim, um desporto radical que obriga a trepar carros, saltar valas e tentar chegar vivo ao outro lado da rua. Se uma pessoa não quer passar por mentirosa, não pode dizer: "vou atravessar a Avenida da República, e já te ligo."

Se andar a pé na cidade fizesse assim tão bem, não ofereciam um carro aos quenianos que vencem a maratona de Nova Iorque. Aqueles tipos fazem quarenta quilómetros, a dar tudo, porque, no final, ganham um carro.

Argumentista/humorista
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