Opinião
Timor: contas por saldar
As alianças para a segunda volta das presidenciais irão determinar as eleições legislativas de Junho em que CNRT e FRETILIN voltarão a medir forças.
Uma campanha invulgarmente ordeira as presidenciais aumentou as expectativas de autonomização de Timor-Leste da tutela de forças de segurança estrangeiras.
Apesar de alguns incidentes menores, os 12 candidatos concluíram hoje num clima distendido uma campanha em que a disputa na votação de sábado se deverá centrar em torno de Taur Matan Ruak, Francisco Guterres e José Ramos-Horta.
A reeleição de Ramos-Horta está bastante comprometida pelo apoio dado por Xanana Gusmão a Matan Ruak, comandante das Forças Armadas até Outubro de 2011.
Ramos-Horta após ser eleito em 2007 patrocinou a coligação liderada pelo recém-criado CNRT ("Conselho Nacional da Reconstrução Timorense", reciclando a sigla do "Conselho Nacional de Resistência Timorense") de Xanana, relegando para a oposição a FRETILIN.
Nas eleições legislativas de Junho de 2007 o CNRT elegera 18 deputados contra 21 da FRETILIN - sendo necessários 33 para maioria parlamentar – e o apoio de Ramos-Horta foi fundamental para permitir a Xanana formar governo com quatro pequenos partidos.
Num remate da crise político-militar que obrigara à demissão de Mari Alkatiri em Junho de 2006 os apoiantes da FRETILIN encetaram protestos violentos nas províncias orientais de Baucau, Lautém e Viqueque.
O espinho da FRETILIN
O afastamento do poder da FRETILIN -- que obtivera 57% dos votos nas eleições de 2001 para a Assembleia Constituente, transformada após a declaração formal de independência de Maio de 2002 em Parlamento Nacional – é questão ainda por resolver aos olhos do seu secretário-geral Alkatiri e do presidente Francisco Guterres. Tal como em 2007 Guterres pode passar à segunda volta, mas a FRETILIN – tradicionalmente a organização mais sólida e com maior número de quadros - enfrenta a rede de patrocínio e influências tecida por Xanana.
A convergência entre Xanana e Matan Ruak alimenta e fortalece estruturas de interesses e fidelidades distintas, mas que se confundem em certos casos, sobretudo na mobilização de veteranos da guerrilha.
Este bloco de poder, se não prevalecerem divergências pessoais e caso se mantenha o equilíbrio constitucional entre presidente, primeiro-ministro e parlamento modelado segundo o exemplo português, relega, uma vez mais, para segundo plano as províncias de leste, mas apresenta condições para governar.
As alianças para a segunda volta das presidenciais em Abril irão determinar as eleições legislativas de Junho em que CNRT e FRETILIN voltarão a medir forças.
Petróleo e pouco mais
A instabilidade pós-independência – motins de Dezembro de 2002, colapso do estado ante revolta de militares do leste em 2006, atentado contra Ramos-Horta em 2008 – manteve Timor-Leste sob tutela estrangeira.
A retirada até ao final de 2012 de mais de um milhar de efectivos policiais e de assessores militares estrangeiros – deixando espaço para acordos de cooperação bilaterais na área de segurança com Portugal e Austrália – é objectivo comum às lideranças políticas timorenses, mas só a conclusão pacífica dos processos eleitorais permitirá aferir da viabilidade destas aspirações.
A cooperação conseguida com Jacarta é factor extraordinariamente positivo, mas a perda da capacidade de mediação de conflitos por parte da igreja católica (cuja doutrina agrava o devastador crescimento demográfico de 3,4% ao ano) tem vindo a revelar-se óbice perigoso.
A confirmar-se a vitória do duo Matan Ruak-Xanana prosseguirá a política de fortes investimentos públicos – que tiveram um incremento de cerca de 350% desde 2008, atingindo este ano o orçamento, de execução duvidosa, 1,67 mil milhões de dólares –até os riscos da elevada inflação (taxa média anual de 14,3% em Janeiro) obrigarem a maior contenção.
Totalmente dependente do petróleo (cerca de 95% das receitas que só estão garantidas até 2025 sem que haja acordo até agora com a "Woodside" australiana para exploração das jazidas "off shore" de gás natural), o governo de Xanana optou por recorrer ao "Fundo Petrolífero" que conta com 7,2 mil milhões de dólares e comprometer-se com os primeiros empréstimos externos.
Pobreza generalizada, falta de quadros, prevalência da agricultura de subsistência e noutros sectores 70% de empregos precários, alta incidência da corrupção, condicionam qualquer esperança de progresso, mas Timor já conheceu dias piores.
Apesar de alguns incidentes menores, os 12 candidatos concluíram hoje num clima distendido uma campanha em que a disputa na votação de sábado se deverá centrar em torno de Taur Matan Ruak, Francisco Guterres e José Ramos-Horta.
Ramos-Horta após ser eleito em 2007 patrocinou a coligação liderada pelo recém-criado CNRT ("Conselho Nacional da Reconstrução Timorense", reciclando a sigla do "Conselho Nacional de Resistência Timorense") de Xanana, relegando para a oposição a FRETILIN.
Nas eleições legislativas de Junho de 2007 o CNRT elegera 18 deputados contra 21 da FRETILIN - sendo necessários 33 para maioria parlamentar – e o apoio de Ramos-Horta foi fundamental para permitir a Xanana formar governo com quatro pequenos partidos.
Num remate da crise político-militar que obrigara à demissão de Mari Alkatiri em Junho de 2006 os apoiantes da FRETILIN encetaram protestos violentos nas províncias orientais de Baucau, Lautém e Viqueque.
O espinho da FRETILIN
O afastamento do poder da FRETILIN -- que obtivera 57% dos votos nas eleições de 2001 para a Assembleia Constituente, transformada após a declaração formal de independência de Maio de 2002 em Parlamento Nacional – é questão ainda por resolver aos olhos do seu secretário-geral Alkatiri e do presidente Francisco Guterres. Tal como em 2007 Guterres pode passar à segunda volta, mas a FRETILIN – tradicionalmente a organização mais sólida e com maior número de quadros - enfrenta a rede de patrocínio e influências tecida por Xanana.
A convergência entre Xanana e Matan Ruak alimenta e fortalece estruturas de interesses e fidelidades distintas, mas que se confundem em certos casos, sobretudo na mobilização de veteranos da guerrilha.
Este bloco de poder, se não prevalecerem divergências pessoais e caso se mantenha o equilíbrio constitucional entre presidente, primeiro-ministro e parlamento modelado segundo o exemplo português, relega, uma vez mais, para segundo plano as províncias de leste, mas apresenta condições para governar.
As alianças para a segunda volta das presidenciais em Abril irão determinar as eleições legislativas de Junho em que CNRT e FRETILIN voltarão a medir forças.
Petróleo e pouco mais
A instabilidade pós-independência – motins de Dezembro de 2002, colapso do estado ante revolta de militares do leste em 2006, atentado contra Ramos-Horta em 2008 – manteve Timor-Leste sob tutela estrangeira.
A retirada até ao final de 2012 de mais de um milhar de efectivos policiais e de assessores militares estrangeiros – deixando espaço para acordos de cooperação bilaterais na área de segurança com Portugal e Austrália – é objectivo comum às lideranças políticas timorenses, mas só a conclusão pacífica dos processos eleitorais permitirá aferir da viabilidade destas aspirações.
A cooperação conseguida com Jacarta é factor extraordinariamente positivo, mas a perda da capacidade de mediação de conflitos por parte da igreja católica (cuja doutrina agrava o devastador crescimento demográfico de 3,4% ao ano) tem vindo a revelar-se óbice perigoso.
A confirmar-se a vitória do duo Matan Ruak-Xanana prosseguirá a política de fortes investimentos públicos – que tiveram um incremento de cerca de 350% desde 2008, atingindo este ano o orçamento, de execução duvidosa, 1,67 mil milhões de dólares –até os riscos da elevada inflação (taxa média anual de 14,3% em Janeiro) obrigarem a maior contenção.
Totalmente dependente do petróleo (cerca de 95% das receitas que só estão garantidas até 2025 sem que haja acordo até agora com a "Woodside" australiana para exploração das jazidas "off shore" de gás natural), o governo de Xanana optou por recorrer ao "Fundo Petrolífero" que conta com 7,2 mil milhões de dólares e comprometer-se com os primeiros empréstimos externos.
Pobreza generalizada, falta de quadros, prevalência da agricultura de subsistência e noutros sectores 70% de empregos precários, alta incidência da corrupção, condicionam qualquer esperança de progresso, mas Timor já conheceu dias piores.
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