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Terreiro do Paço

Já me tentaram explicar mas não compreendi. Certamente por defeito meu. Continuo sem perceber porque é que a Câmara de Lisboa não consegue fazer as coisas mais elementares, como limpar as ruas, tapar buracos, pintar passadeiras e por aí fora. O actual pre

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Meia dúzia de passadeiras pintadas de fresco são uma gota de água no oceano e revelam uma evidente incapacidade em atacar o problema a sério.

Quando um presidente comparece, acompanhado de altos funcionários da Câmara, numa sessão de lavagem da Praça do Rossio é mais do que a perplexidade que nos assalta. É mesmo o espanto. Fica claro que em Lisboa, capital europeia, lavar as ruas é um acto tão excepcional que tem direito a presença oficial e reportagem televisiva. Definitivamente custa a entender.

Alguns afirmam, à laia de justificação, que se trata de um problema estrutural. Como quase tudo em Portugal, diga-se de passagem. Numa lógica frequente nas autarquias, a Câmara de Lisboa cresceu e organizou-se pensando sobretudo nos seus próprios interesses, mais do que no serviço ao cidadão. Assim terá várias centenas de funcionários a tratar de incongruente papelada interna e muito poucos a lavar as ruas e cuidar da cidade. Mudar isto, por muita boa vontade que exista, é dado como quase impossível. O resultado está à vista. António Costa anunciou a semana passada, como grande coisa, que mandou pintar mais cinco passadeiras cinco na zona da Baixa.

A este propósito recordo uma viagem a Itália nos anos 80. Durante a minha estada, o presidente da Câmara de Roma anunciava em grandes parangonas uma intervenção nas praças da cidade. Feito turista acidental fui ver. Cortou a fita numa delas, mas a acção visou a remodelação, nalguns casos profunda, de 100 praças 100. Sobre simbolismo político estamos portanto conversados.

É certo que Costa não tem dinheiro nem máquina. E ainda mais certo, para quem o conhece, quanto a falta de meios será frustrante para alguém que gosta de realizar obra. Mas alguma coisa de sério e profundo tem de ser feito nesta malfadada Lisboa. O mínimo que se exigiria seria que no espaço de um mês todas as passadeiras da cidade fossem pintadas, todas as ruas lavadas e a grande maioria dos buracos tapados. Nada que as outras capitais europeias não façam todos os dias, durante todo o ano. Cabendo legitimamente perguntar se a Câmara não é capaz de fazer isto, então para que serve e o que faz realmente?

Também a operação Terreiro do Paço me parece desventurada. Não tanto pelo incómodo que provoca na circulação rodoviária na zona, mas pelos conteúdos. Trata-se da mais bela e emblemática Praça da cidade e colocar meia dúzia de jovens a fazer piruetas, algum folclore e umas pindéricas bicicletas é mais do que pouco. É simplesmente patético.

Para mais a tendência francamente populista, muito Bloco de Esquerda, não será a mais conveniente. O Terreiro do Paço precisa de uma intervenção de fundo e acima de tudo de reconquistar a identidade de espaço nobre da cidade. Invadi-lo com jogos tradicionais portugueses, prova de vinhos e venda de farturas, coisa aceitável numa pequena Câmara de província, arrisca-se a torná-lo numa outra Feira Popular e colar-lhe uma imagem que não será fácil desfazer.

Da actual gestão camarária espera-se para este espaço uma solução urbana, moderna e cultural, o mais definitiva possível no contexto da dinâmica das cidades. E não mais medidas avulsas e provisórias. O Terreiro do Paço é aliás o paradigma da incompetência política que nas últimas décadas tem gerido a capital. Da incapacidade de retirar os ministérios do lugar, medida que todos reclamam e que até hoje não avançou um milímetro, à sua transformação num centro de turismo, hotelaria e actividade culturais, nenhum Presidente foi capaz de dar os passos necessários para uma concretização que devia ser prioritária e urgente. A falta de dinheiro não justifica tudo. Tanto mais que nem sequer se trabalhou seriamente o plano das ideias. E nestas coisas não é difícil transformar uma dificuldade numa oportunidade. Tal como se tem feito noutras capitais, basta recordar o Passeio do Prado em Madrid, justifica-se o lançamento de um concurso internacional capaz de atrair os melhores arquitectos da actualidade. E aproveitar o processo de remodelação como campanha de promoção internacional da cidade.

A gestão de uma capital europeia no século XXI só pode mesmo ser ambiciosa. A evolução das cidades no sentido da sua afirmação autónoma face aos países, enquanto motor de uma afirmação cultural própria e centro de actividades económicas criativas, é hoje um dado adquirido. Certos lugares numa cidade são essenciais para esta estratégia. Em Lisboa o Terreiro do Paço não pode deixar de ser um dos mais importantes. Imaginá-lo como mera Praça domingueira e popularucha é ver curto.

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