Opinião
Sobra sempre a factura
No caso do TGV, há argumentos que valem zero. Dizer que a alta velocidade faz bem ao PIB e que cria emprego, que despolui ou que diminui os acidentes, que aproxima o Porto de Lisboa ou que contraria o centralismo madrileno é uma adição de soma nula.
E dizer que o TGV não encaixa com a Ota, que as bitolas da alta velocidade não encaixam em nada, que o plano de Mário Lino esquece problemas técnicos bicudos que se hão-de traduzir em despesa não programada ou que o país não tem dinheiro é também uma subtracção de resultado nulo.
A discussão do TGV está inquinada porque as coisas foram postas a preto e branco. Para o Governo, no prato esquerdo da balança só há TGV e no prato direito também só há TGV. Para os opositores, a questão é a mesma: nem TGV nem TGV.
Agora só faltam os Camões para cantar a gesta da alta velocidade e para humilhar os velhos do Restelo e, depois, 500 anos de historiadores para carpir a monumental asneira que levou Portugal às aventuras das Índias.
Uma suave loucura costumeira apropria-se dos portugueses sempre que nos defrontamos com a angústia das grandes decisões. Afinal temos um fado que é o de dizer mal de tudo antes das coisas acontecerem e depois, excluindo os historiadores, somos sempre os primeiros a elogiar o que foi feito.
Nesta questão do TGV, como na da Ota, na do CCB, na da Expo’ 98, na do Alqueva, na do Euro 2004 e, lembram-se?, como na da ponte Salazar, há sempre prós e contras, vantagens e desvantagens, custos e receitas, certezas e incertezas, riscos calculáveis e incalculáveis. Medos e paixões.
Este Governo não faz assim diferente de todos os outros de que há memória: ergueu a sua bandeira bem alto e transformou uma equação num dogma. Porém, como sempre, sobra uma factura que ninguém quer pagar. Nem os Governos seguintes, nem os contribuintes.
O investimento no TGV podia ser comparado com mil e um outros grandes projectos indispensáveis para o país. Mas essa análise comparativa ninguém a quer fazer.
E, no entanto, se dessem oito mil milhões de euros a qualquer português apareceriam sempre 100 mil novos postos de trabalho e o PIB ficaria muito animado.