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Seremos assim tão incapazes?

Cooperação, acordo, entendimento e concentração nas soluções. São as atitudes dos eleitos e eleitores de países que conseguiram resolver os graves problemas que enfrentam. Os exemplos estão na Escandinávia e na Irlanda, no passado e agora.

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Cooperação, acordo, entendimento e concentração nas soluções. São as atitudes dos eleitos e eleitores de países que conseguiram resolver os graves problemas que enfrentam. Os exemplos estão na Escandinávia e na Irlanda, no passado e agora.

Nós, por cá, temos sempre uma "Madeira" ou umas vagas "convicções ideológicas" que nos condenam a este círculo infernal de crises orçamentais e becos sem saída.

Todo o processo de construção do Orçamento do Estado foi uma dolorosa exposição pública da incapacidade de cooperar para o bem comum. Nasceu um Orçamento do Estado para 2010 que é a imagem desagradável das piores e mais graves tácticas de conquista ou manutenção do poder, pelo poder.

A política é assim, dirão os políticos de pacotilha partidária.

O PSD não pode ceder no reforço dos dinheiros para a Madeira porque a Região tem muito peso no partido, dizem - e fazem - esses ditos políticos.

O CDS/PP não pode aprovar o Orçamento porque o Governo tem uma política despesista de investimento público contrária às suas convicções de centro-direita, continua-se na mesma linha noutra bancada parlamentar.

O PS faz contas políticas de cabeça. Assim: Nós sabemos que eles sabem que, se inviabilizarem o Orçamento, vamos para eleições e quem perde são eles, o PSD e CDS. Sim, porque o Bloco de Esquerda e o PCP desapareceram de cena. Vão regressar para contestar.

Todos estes jogos poderiam ter gerado o Orçamento do Estado de que precisávamos. Um pouco como a "mão invisível" que nos oferece bem-estar pela simples atitude de cada um perseguir o seu interesse egoísta. Mas não. O mundo do país não é o de Adam Smith mas, sim, o universo do modelo não dinâmico do "Dilema do Prisioneiro". Em que o passado parece nunca ter existido porque nada se aprendeu com ele. Em que os partidos se "denunciam" uns aos outros como os prisioneiros, ignorando os ensinamentos dos erros do passado que apontam para a cooperação, que dizem para "não denunciar".

O Orçamento do Estado para 2010 devia ser o melhor das últimas três décadas. Porque é urgente descolar Portugal da Grécia aos olhos dos analistas internacionais, que influenciam os investidores que financiam o nível de vida que temos - acima das nossas possibilidades. Porque, mais importante ainda, é urgente oferecer aos portugueses uma ideia de país com futuro.

É doloroso ver aquela histórica quantidade de páginas do Relatório do Orçamento sem encontrar uma orientação que vá para além de respostas, recados e explicações ao PSD, ao CDS/PP
e ao Presidente da República.

As páginas e páginas que explicam as virtudes do investimento público tornam-se ainda mais absurdas quando o Governo diz depois que, afinal, nenhum grande projecto - que tanto enerva a oposição - vai ser concretizado a curto prazo.

E quando chegamos aos números, a parte mais escrutinada pelos investidores internacionais, a decepção é total. Na tentativa de limitar o risco de terminar 2010 com um défice superior ao de 2009, o Governo acabou por ameaçar a credibilidade das suas contas.

Era possível fazer melhor. Cooperando, claro.

helenagarrido@negocios.pt


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