Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

"Zapping"

Adepto do atletismo de sofá, observo o mundo a mudar. E depressa, muito depressa, à velocidade de Usain Bolt.

  • 7
  • ...
Adepto do atletismo de sofá, observo o mundo a mudar. E depressa, muito depressa, à velocidade de Usain Bolt. Os Jogos Olímpicos, durante décadas palco do homem branco, enchem-se agora de cores e países que muitos espetadores nem sabiam que existiam. Mas não são só as bandeiras e os hinos que mudam. Somos nós mesmos, os chamados ocidentais, que estamos em evidente processo de mutação genética. É assim que aparecem negros no Canadá, árabes em França, africanos por todo o lado onde seja preciso correr depressa. Basta pensar na muito British e extraordinária Christine Ohuruogu, vencedora dos 400 metros. Ou da linha de partida dos 100 metros, a prova mais emblemática e excitante dos Jogos, decorada com uma bela maré de negritude. O que, a propósito, permite pensar que há algo na genética ou na dieta dos Jamaicanos que os torna imbatíveis.

Ao contrário de certos puristas, não vejo nenhum drama nestes factos. Por duas ordens de razão. A miscigenação sempre foi uma característica fundamental da espécie humana e aquilo que lhe trouxe uma enorme vantagem competitiva. São, aliás, os lugares onde existe cosmopolitismo e uma maior combinação sexual que se tornam mais dinâmicos, inovadores e criativos. Nunca esquecer que à época dos Descobrimentos, Lisboa exibia uma mistura de povos e etnias como não se via em nenhuma outra cidade Europeia.

Por outro lado, os Jogos Olímpicos são o pináculo do talento individual. Os rituais nacionalistas servem orgulhos, mas têm na verdade pouco significado face ao valor intrínseco de cada atleta. É assim que pequenos países, ou aqueles onde não existe uma aposta consistente na formação atlética, conseguem mesmo assim conquistar medalhas.

Gostaria ainda de deixar um outro comentário. Os Jogos Olímpicos revelam uma camaradagem entre os atletas que não vemos noutros desportos, como é o caso do futebol e suas constantes brigas. Aqui não há agressividade, mas genica e vontade de vencer. No final todos se abraçam e confraternizam. É bonito.

Por cá, longe de Londres, as trapalhadas continuam. Esta semana foi notícia o projeto do peculiar empresário Alexandre Alves que quer montar uma fábrica de painéis solares. Do negócio saberá ele e quem o apoia. Mas não deixa de ser estranho que o Governo venha reclamar, e logo, mil milhões de euros que teriam sido entregues para financiamento do projeto, enquanto a AICEP, Agência do atual Governo para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, diz que nunca lhe foi dado qualquer dinheiro. Quando o Governo não sabe se deu ou não deu mil milhões a alguém é porque isto está mesmo muito descontrolado.

Num episódio paralelo, surgiu na SIC notícias o reformado Henrique Neto, que passa o seu tempo a correr para as televisões a dizer mal de tudo e todos. Apesar de afirmar que nada sabe do assunto, nem tem mais informação do que aquela que vem nos jornais, teve direito a meia hora de tempo de antena explicando que se trata de um péssimo negócio por causa dos coreanos e a dizer mal do anterior, deste e de todos os governos que possam existir. Nem sequer poupou, num gesto indelicado, coisa que não espanta num homem tão embrutecido pelo ódio, o seu "colega" empresário. A televisão enche-se destes velhos rezingões e depois admirem-se porque anda tudo tão deprimido.

Finalmente, neste breve "zapping", não posso deixar de comentar uma pequena notícia, mas muito reveladora do estado de coisas.

Ao que parece, o Hospital de São José em Lisboa passa agora faturas em que discrimina o custo real de cada consulta e quanto o paciente efetivamente pagou. Não se entende o alcance da contabilística iniciativa. O Hospital não tem a missão constitucional de tratar o melhor possível os seus doentes, independentemente de quanto isso custa? Ou será que se pretende criar um complexo de culpa em quem beneficia dos seus serviços? E nem sequer é honesto. Porque se coloca um valor médio, meramente estatístico, e não o que realmente se consumiu em cada consulta. Estas ideias só podem vir de cabeças doentes cuja ação, essa sim, consome inutilmente muitos recursos dos contribuintes.


Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio