Opinião
"Jeremy" e o Arizona
Anunciado desde o ano passado, chegou ao circuito de distribuição mais um álbum ao vivo dos Pearl Jam de Eddie Vedder, que este ano celebram 20 anos de carreira.
Chama-se "Live on ten legs" e com certeza somará mais alguns milhares de discos vendidos aos 60 milhões com que a banda já conta.
Nos anos noventa, em plena explosão da nova vaga americana "de Seattle" (com os Nirvana de Kurt Cobain à cabeça), uma jovem jornalista perguntava ao ancião Keith Richards se os Rolling Stones também poderiam ser classificados como "música alternativa". Richards, do alto de quem tinha escrito "Paint it black" em 1966, respondeu com sarcasmo: "Alternativa a quê? À Whitney Houston?...". A pressa mediática em "encolher o fato" para que caiba no tambor da máquina de lavar roupa televisiva tem destas coisas; dizer que Pearl Jam é "alternativa", ou "grunge", não sendo mentira, seria o mesmo que dizer que Portugal é "pitoresco".
Eddie Vedder escreveu com o paquistanês Nusrat Fateh Ali Kahn um dos mais belos temas do filme "Dead MAN Walking/A Última Caminhada" de Tim Robbins, interpretado por Susan Sarandon e Sean Penn. Este último realizou em 2007 "Into The Wild/Natureza Selvagem", e Vedder compôs a banda sonora original na íntegra e em acústico. O seu envolvimento cívico levou-o a fazer uma interessante versão de "The times they are a´changin" de Bob Dylan, mas foi na batalha contra a Ticketmaster, empresa americana que monopoliza o sistema de distribuição de ingressos para o gigantesco mercado da música ao vivo nos Estados Unidos, que Vedder e a banda mais se distinguiram. Numa atitude inédita, processaram a empresa por especulação, revelando publicamente todo o processo de sobrevalorização excessiva do mercado dos bilhetes para espectáculos. Este álbum que agora chega ao mercado junta-se a, literalmente, centenas de gravações ao vivo disponibilizadas ao longo dos anos, tentando deflacionar o preço ao consumidor: o mercado condiciona hoje, e de que forma, o que se consagra ou não na memória colectiva construída pela criatividade. Se esta é ou não a "censura" do séc. XXI, esse é um debate para continuar - no caso português, talvez para começar.
Em estúdio, onde a autoria melhor respira, "Ten" (1991) é o álbum-chave, e "Jeremy" - narração obscura do caso real de um miúdo texano que se suicidou com uma Magnum em plena sala de aula - o retrato cru dos subúrbios e da ilusão securitária da classe dita média. Revisitá-lo neste "Live on ten legs", algumas semanas depois de mais um massacre como o tragicamente ocorrido no Arizona, onde o estudante de 22 anos Jared Lee Loughner deixou seis mortos e 14 feridos graves, dá que pensar.
"Alternativa", só se for às ilusões ópticas da fibra.
Nos anos noventa, em plena explosão da nova vaga americana "de Seattle" (com os Nirvana de Kurt Cobain à cabeça), uma jovem jornalista perguntava ao ancião Keith Richards se os Rolling Stones também poderiam ser classificados como "música alternativa". Richards, do alto de quem tinha escrito "Paint it black" em 1966, respondeu com sarcasmo: "Alternativa a quê? À Whitney Houston?...". A pressa mediática em "encolher o fato" para que caiba no tambor da máquina de lavar roupa televisiva tem destas coisas; dizer que Pearl Jam é "alternativa", ou "grunge", não sendo mentira, seria o mesmo que dizer que Portugal é "pitoresco".
Em estúdio, onde a autoria melhor respira, "Ten" (1991) é o álbum-chave, e "Jeremy" - narração obscura do caso real de um miúdo texano que se suicidou com uma Magnum em plena sala de aula - o retrato cru dos subúrbios e da ilusão securitária da classe dita média. Revisitá-lo neste "Live on ten legs", algumas semanas depois de mais um massacre como o tragicamente ocorrido no Arizona, onde o estudante de 22 anos Jared Lee Loughner deixou seis mortos e 14 feridos graves, dá que pensar.
"Alternativa", só se for às ilusões ópticas da fibra.