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Alexandre Brandão da Veiga 04 de Janeiro de 2007 às 13:59

Quem cala a Teresinha?

Admitamo-lo. A liberdade de expressão veio para ficar. Para todas as pessoas. Mas sendo a Teresinha uma ficção, terá ela direito à dita? Que a liberdade de expressão nos tenha invadido significa que nos tenha de cair nas nossas cabeças?

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Reconheçamo-lo. Verguemo-nos. A Teresinha é rica de argumentos. É certo que os compra em supermercados americanos ou turcos, que é uma peça numa maravilhosa máquina de propaganda de que é mera usufrutuária (mas que a Teresinha era "mera" já era facto propalado pela uox populi), mas não nos devemos deixar corroer pela inveja. A Teresinha é rica de argumentos e devemo-los ouvir com atenção. A cada novo momento, destruídos uns argumentos, surgem outros mais frescos, recém-embrulhados, prontos a consumir. A Teresinha é a fast food da retórica.

Que a Teresinha seja uma ficção, que a sua cabeça seja um vaso de flores, já o tínhamos estabelecido há muito tempo. Mas a Teresinha é igualmente uma boca. Que fala. Vejamos então com que nos argumentos nos presenteia a Teresinha.

"Quem nos diz que as culturas muçulmanas não são melhores que as europeias?", a Teresinha disse, está dito. E vamos mesmo admitir que isso é verdade. Porque a Teresinha tem o hábito de formular o seu pensamento pela negativa sejamos ousados e tenhamos a coragem de o enunciar pela positiva: a cultura turca é muito melhor que a europeia. Muito, muito melhor. Partindo de tal arrojada premissa podemos então verificar da sua bondade. A construção europeia não visa estabelecer a Meliorurbs ou Best City. Não é o Far West. Índios e cow boys já temos que chegue na Europa. E a União chama-se de Europeia e não de Melhor. Se os turcos são cultura melhor que a nossa começo desde já e preventivamente a lacrimejar de inveja. Faço tudo pela Teresinha. Mas quando um português diz que é diferente de um espanhol terei então passar a tratá-lo de racista e invejoso. A Teresinha não gosta de rigor nos adjectivos talvez porque os adjectivos que recebe sejam de rigor.

"Os turcos darão uma nova frescura à Europa. Vão renovar demograficamente a Europa." Vejamos. O critério é assim de refrigeração. A Europa está algo morna. A Teresinha querer presentear a Europa com um ar condicionado. Bem senti algum condicionamento do ar quando a vi perorar. Tinha razão afinal. A Teresinha ao seu modo. Ao modo das Teresinhas. Que a reprodução, ou melhor, que o acto que a antecede, seja a grande obsessão da Teresinha, também o aceitamos. Mas a Teresinha que perceba não precisar a Europa que lhe façam o que ela bem gostava que lhe fizessem.

"Conheci turcos que aturaram pacientemente os meus desejos de Bom Natal." Somos tolerados pelos turcos. É bom saber que a Europa existe para ser tolerada. A Teresinha não espera mais da vida e quer a mesma sina para a Europa. Sejamos tolerados, pois. Quedemo-nos por esse destino. É bom saber que os turcos podem entrar na Europa, não por serem europeus, mas por nos perdoarem o facto de o sermos. Generosidade inexcedível. Vejo-me já postado à brisa dedicando-me a ser objecto de tolerância. Glorioso destino, fora eu uma Teresinha.

Noutras ocasiões, afirma: "vejam como manifestaram pacificamente em 2006 quando da questão das caricaturas de Maomé. Ao contrário de outros não atiraram pedras contra embaixadas." Ora, é a mesma Teresinha que afirma ninguém saber o que é a Europa e que agora vem estabelecer um critério que afinal é bem simples: ser europeu é não atirar pedras. Extrema-direita e extrema-esquerda do continente europeu? Tudo borda fora. Atirados para o Mediterrâneo ou o Atlântico. Quem pode entrar na Europa? Quem não atira pedras. Ou seja: Turcos, manetas e paraplégicos. É certo que os turcos em boa pontaria não perderam tempo a atirar pedras. Preferiram matar um padre católico. Tentaram com o papa mas preferiram treinar o tiro em mais simples alvo. Por isso o leitor, agora que não quer perder o seu estatuto de europeu, já sabe que em dia de fígado mais azedo, não se deve agachar até à pedra da calçada, mas dirigir-se à paróquia mais próxima. Além do sacramento da confissão é sinal eficaz da graça: o tiro. Teresinha dixit e nós vergamo-nos perante o seu verbo.

"Temos de ser prudentes", defende a Teresinha. Desde o caso das caricaturas do Maomé com a bomba na cabeça que o apoio do povo turco à Europa desceu quinze por cento". É um outro bom critério para se conhecer o que seja um país europeu. Pôr bombas da cabeça do profeta e ver como desce o apoio popular à Europa. Assim pensa a Teresinha que exclui assim todos os países do continente europeu deste critério mas faz vir à luz grandes países europeus como a Turquia, o Irão, e o Egipto. Salvo se com isto a Teresinha querer criar a tentação em alguns europeus de relocalizar anatomicamente a bomba e assim ainda baixar mais o apoio turco à adesão europeia. A Teresinha é uma malandra e uma grande tentadora, porque está a dar ideias a esses asiáticos que são os suecos e dinamarqueses.

Em privado, por vezes, a Teresinha diz: "É verdade, eles são asiáticos, vai levantar problemas, mas é política." E quando pronuncia a palavra "política" baixa primeiro os olhos em tom de arcana sapiência para depois os elevar ao céu em ar de celeste elevação. E que vontade nos dá de fazer levar as Teresinhas até bem perto do sol nessa altura! Como ela sabe de politica partidária, julga que toda a política é partidária. A Teresinha, desde que ocupa elevados cargos na Europa julga-se grande. Diremos nós antes que é uma grandessíssima, não fora ser antes uma supina.

"Devemos à Turquia grandes avanços culturais." É verdade, o café com borras e a retrete turca. Mas que a Teresinha se sinta satisfeita com uma vida borrada e seja sua posição preferida a flexão define mais a Teresinha que a Europa. Fora orgulho da Europa a direcção dos esfíncteres suspeito que suscitaria alguma menor admiração no mundo. Retretes turcas? Bem nos cheirava, passo o paradoxo. Mas a Teresinha, comida pelo seu próprio olfacto, é insensível a este pormenor. A árvore conhece-se pelos seus frutos. Os da Teresinha nascem de cócoras. Que a Teresinha obre facilmente o reconhecemos, mas que a isso reduza a obra europeia poderia ser considerado temerário.

Diz o povo que ter virado para a lua na hora do nascimento o que a Teresinha quer dar aos turcos dá sorte. Mas que a Teresinha queira dar de si o que presumimos ser o seu melhor não nos pode fazer esquecer que nem todos pretendemos fruir dos mesmos prazeres que a Teresinha. Se é desta forma que a Teresinha quer alargar os horizontes está no seu direito mas que tenha a generosidade de perdoar quem não está disposto a viver em aperto. Se a Teresinha quer fazer da Europa uma casa de tolerância pode-se compreender, mas nem todos temos na nossa genealogia experiência de tais afazeres. Que a Teresinha perceba que nem todos temos a sua vocação. Agora que as Teresinhas têm cargos importantes na Europa têm de perceber que o que lhes dá sorte não pode ser critério para o comum dos cidadãos. Subiram oferecendo aos americanos o que querem dar ao turcos e não sou eu quem irá criticar o gosto alheio. Mas que percebam que nem todos se dedicam a abrir-se ao mundo.

Cada um de nós tem Deus e o diabo dentro de si, diz a Teresinha. Estranho condomínio. Seja como for, cabe-lhe a ela desenvencilhar-se de tal confusão. Fora apenas má a formula seria menos mau. Pesando-lhe a substância apenas lhe posso augurar bom termo, porque de seu termo, se ela não precisa, podemos nós dizer que sim.

A liberdade de expressão veio para ficar mas ficou parada na cabeça da Teresinha. Ela não deixa que saia dela. Só ela a pode usar. Os outros todos são racistas e ignorantes. Não proporia uma mordaça à Teresinha. Seria injusto. Antes um açaime. Deus, que me deu esta tendência para o enfado, dever-me-ia ter dado menos sentido de ridículo.

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