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Duarte Cordeiro 12 de Fevereiro de 2013 às 23:30

Procurar alternativas – Regular o Financiamento Colaborativo

O financiamento às empresas é dos principais problemas que temos pela frente e sem o qual dificilmente conseguiremos sair da crise em que nos encontramos. Qualquer estratégia de crescimento económico, de promoção de emprego, de industrialização ou de reforço na produção de bens transacionáveis não sobrevirá sem que encontremos uma resposta a esta questão.

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O ano de 2012 encerra com uma redução no crédito concedido às empresas em cerca de 50%. Nenhuma estratégia do Governo para resolver o problema do financiamento tem resultado e o sistema bancário não liberta os recursos necessários para estimular a atividade económica. Para uma start-up é praticamente impossível financiar-se sem que tenha garantias reais ou sem que se sujeite a juros proibitivos.


Neste cenário adverso importa olharmos para soluções alternativas que, apesar de não responderem a todos os problemas, nos permitam viabilizar empresas, salvaguardar emprego e canalizar recursos indispensáveis à economia.

Uma dessas alternativas é o financiamento colaborativo ou crowdfunding. Neste modelo as empresas dirigem-se a plataformas on-line e procuram, através de campanhas de financiamento, recolher pequenos montantes junto de uma multidão de investidores, essencialmente pessoas interessadas em investir parte das suas poupanças. A empresa é obrigada a dizer quanto pretende angariar, em quanto tempo e o que oferece em troca pelo financiamento. As plataformas procuram intermediar a relação, determinar se o projeto é viável para ser financiado e informar os financiadores dos riscos que incorrem.

Em Portugal, o financiamento colaborativo já existe e tem-se centrado na modalidade de venda antecipada de produto, na qual o financiador recebe em troca do financiamento o produto vendido pela empresa. Felizmente já existem muitos casos de sucesso de empresas industriais e exportadoras que começaram por financiar-se através do financiamento colaborativo. Muitos músicos têm visto neste meio uma forma interessante de financiar e vender os seus novos álbuns.

Em todo o mundo, o crowdfunding tem crescido a um ritmo alucinante. De acordo com o relatório da indústria, elaborado pela Crowdsourcing.org, estima-se que no final de 2012 tenham sido movimentados 2,8 mil milhões de dólares. O maior crescimento tem ocorrido em duas modalidades que ainda não são praticadas em Portugal, a que permite receber parte do capital social ou dos lucros da empresa e a que permite receber juros, em troca do financiamento prestado.

Estas modalidades só são possíveis com regras, com reguladores, com identificação dos limites ao financiamento e com mecanismos que previnam as fraudes e os abusos. A regulamentação do Crowdfunding já arrancou nos EUA e em alguns países europeus.

Muitas empresas portuguesas têm recorrido, com sucesso, a plataformas estrangeiras à procura destas modalidades de financiamento. Não podemos, no atual contexto, ficar para trás e devemos, necessariamente, arrancar com o nosso processo de regulação do financiamento colaborativo. Não podemos dar-nos ao luxo de não procurar alternativas ao financiamento bancário. A regulação pode reforçar a confiança no que já é praticado em Portugal, atraindo mais empresas e mais financiadores, e pode introduzir novas modalidades de financiamento colaborativo que nos permitam ter mais instrumentos de apoio disponíveis ao processo de afirmação e crescimento das empresas.

Deputado do Partido Socialista na Comissão de Economia e Obras Públicas

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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