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Portugal não será a Grécia mas parece

Portugal segue passo a passo a realidade grega com um atraso médio de 18 meses. Infelizmente nem o primeiro-ministro, nem o Presidente da República parecem perceber isso e fingem que não sabem onde tudo isto vai acabar.

(1) A propaganda oficial do regime que teima em agonizar insiste que Portugal não é a Grécia. Não será mas parece. A economia está totalmente rebentada (nesta altura as diferenças nas contas nacionais já são meramente académicas). A sociedade em pura desagregação (todos ralham mas ninguém diz como resolver os vários problemas do financiamento e do crescimento dentro da realidade do euro em que vivemos; impera a demagogia). O memorando da troika não pode nem nunca será cumprido. Os objectivos de défice e do endividamento externo falham, com o Governo de ocasião a usar os truques habituais para esconder os números da triste desilusão (sempre a rever as metas). As reformas estruturais fingem-se, discutem-se, legislam-se até à exaustão mas não são executadas.

O Governo Passos Coelho é uma cópia fiel do Governo Papandreou que esteve no poder entre Outubro de 2009 e Novembro de 2011. Uma maioria absoluta, um memorando para cumprir, a política do bom aluno, as culpas endossadas ao governo anterior. A mesma inépcia, a mesma inabilidade, a mesma receita (o tal Orçamento de choque de Vítor Gaspar para 2013 é uma fotocópia do Orçamento grego para 2011). O mesmo desastre. E o mesmo fim inglório... Passos Coelho será despedido como foi Papandreou quando se perceber que a inevitável renegociação do memorando tem que ser feita por outro (resta saber quem vai ser o Lucas Papademos português que, com um mais que provável Governo PSD-PS-CDS, possa fazer isso).

Portugal segue passo a passo a realidade grega com um atraso médio de 18 meses. Infelizmente nem o primeiro-ministro nem o Presidente da República parecem perceber isso e fingem que não sabem onde tudo isto vai acabar. Quando o primeiro-ministro tiver que ser despedido (logo que o actual Orçamento tenha que ser rectificado por um aumento "inesperado" do défice), bem se pode assacar responsabilidades ao Presidente da República que continua a ver o regular funcionamento das instituições onde estas já deixaram de existir há muito.

(2) Mas há uma grande diferença entre Portugal e a Grécia (na verdade, entre Portugal e o resto do Sul da Europa). Tudo se desagrega menos o sistema partidário. Enquanto na Grécia (tal como na Itália ou em Espanha), os partidos políticos responsáveis pelo desastre sofrem cisões, separações, profundas divisões e uma erosão eleitoral importante, em Portugal tudo na mesma. O cartel continua a funcionar apesar de tudo; alterna-se entre PS e PSD como sempre e nem vislumbre de qualquer cisão. É o reflexo de um sistema partidário rígido, fechado, protegido pela legislação por ele mesmo criada, pelo financiamento turvo e opaco (para não dizer pior) dos partidos instalados, por uma justiça silenciada, por uma rede de interesses absolutamente devastadora, e um caciquismo digno do pior da cultura latina. Dizem os mexicanos aquela frase, "El que se mueve no sale en la foto." Nunca melhor dito. A foto pode ser uma desgraça mas aqui ninguém se mexe. Claro, sempre em nome da estabilidade e do regular funcionamento das instituições.


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