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Portugal é igual à Grécia?

O insucesso do PSD será também o insucesso do centro político em lidar com a crise económica. E por arrasto da democracia tal como ela tem funcionado em Portugal.

A pergunta do milhão de dólares neste momento é: Portugal é igual à Grécia? Basta ser português (não é preciso ser apoiante do Governo) para querer responder pela negativa, mas é bom de ver que nas últimas semanas, vários operadores parecem ter concluído o contrário. De facto, tanto as agências de notação, como os mercados, e até os próprios media internacionais já decidiram: sim, Portugal é igual à Grécia.

Neste juízo de consequências impensáveis, o pontapé de saída foi dado pelas agências, corroborado pelos mercados e agora selado pelos media económicos globais. Primeiro foram as agências de notação, tendo a Standard and Poor’s decidido no dia 13 de Janeiro colocar a dívida portuguesa no lixo, coisa que a Fitch já tinha feito antes do Natal. Os efeitos nas taxas de juro não se fizeram esperar: estamos agora a bater em máximos históricos desde a entrada no euro. Como consequência disso, primeiro o "Wall Street Journal" e depois o "Financial Times", vieram dizer que Portugal vai precisar de um segundo empréstimo. Esta semana, um analista da Sky News concordava com este diagnóstico. O coro parece estar mesmo afinado.

Em resposta, Carlos Moedas escreveu um artigo no "Wall Street Journal" onde retrata Portugal como uma ilha idílica de reformas estruturais num mar de estabilidade política. Isto tem, como é evidente, um terrível travo a "déja vu". Todos recordamos a forma como os membros do Governo anterior em vão se desdobraram em entrevistas na fase final do seu mandato por forma a evitar o pedido de empréstimo ao FMI. Parece que estamos mais uma vez envolvidos numa trajectória que depressa se irá tornar inexorável em direcção ao segundo empréstimo.

Chegados aqui, podemos dizer banalmente que se a impotência deste Governo em travar o agravamento da crise financeira se vier a revelar nos próximos meses, será culpa da ingenuidade de Passos Coelho que, desde o primeiro dia, abordou esta crise do ponto de vista estritamente nacional. O PSD assumiu desde o início o controlo da situação política e a capacidade de inversão do declínio económico. Até agora, o primeiro-ministro tem afirmado uma estratégia de que basta que cumpramos com a nossa parte do acordo para que as coisas comecem a funcionar.

Se 2013 não for um ano de viragem, e tudo leva a crer que não seja, virá a descredibilização do PSD perante a opinião pública. Mas infelizmente, se perder Passos Coelho, perdemos todos. O insucesso do PSD será também o insucesso do centro político em lidar com a crise económica. E por arrasto da democracia tal como ela tem funcionado em Portugal. A julgar pela performance recente, nessa altura o PS não estará em condições melhores. Será por isso o núcleo central do apoio à democracia portuguesa – o bloco central – que fica posto em causa.

Esta crise tem mesmo servido para fragilizar ulteriormente a democracia em vários países, às vezes abruptamente, no nosso caso um pouco mais em câmara lenta. Até agora, Itália e Grécia cederam por um motivo ou outro à formação de governos tecnocratas, abdicando de governos legitimamente eleitos. As notícias da última cimeira são de propostas para que a Grécia fique sob o comando directo de um qualquer Comissário Europeu em Bruxelas, substituindo o já tecnocrático governo. É o esvaziamento total das instituições representativas em detrimento do controle por parte de um poder económico que não foi legitimado.

Comparado com a realidade das democracias do Sul da Europa hoje, o desejo de Manuela Ferreira Leite de suspender a democracia por seis meses para "pôr ordem na casa" parece uma brincadeira de crianças.

Poderão dizer, quem deve não pode mandar. Mas os credores precisam também eles de legitimidade. É pouco inteligente que se tente a todo o custo eliminar o poder político, este deve, pelo contrário ser um mediador e um aliado da UE. Aliás, sempre foi assim. A UE não foi construída em alternativa aos Estados-membros, mas sim em complemento a estes. Sem estes não sobrevive.

Politóloga
Marinacosta.lobo@gmail.com
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