Opinião
Pitágoras e o teorema de Holande
A simbologia vale alguma coisa. O que a eleição de Hollande mostra, tal como a pulverização grega, é que a política de austeridade foi uma panela de pressão que está a rebentar por todos os lados. E que uma Europa construída à sombra de uma moeda, e apenas disso, não é uma solução de futuro.
Os exércitos de Napoleão Bonaparte trouxeram para a Europa novas tácticas. Essa modernidade tornou-os invencíveis. Mas, duas décadas depois, todos conheciam e aplicavam essas formas de guerra. E Waterloo mostrou que acabara o tempo de Napoleão, derrotado pelas ideias que criara. A Europa vive tempos semelhantes. A grande estratégia do euro e, após 2008, as tácticas da austeridade estão a ser derrotadas de forma simbólica, mas sistemática. A chegada ao poder de François Hollande é sobretudo o fim de um ciclo em que a Alemanha, com o seu fiel escudeiro Nicholas Sarkozy e as tropas holandesas fez da austeridade um dogma. O escudeiro caiu do seu jumento e as tropas holandesas descobriram agora que também o seu país está em recessão. A Alemanha, de um momento para o outro, ciente da sua força, está sozinha contra os rebeldes que gritam de todas as direcções. Portugal, claro, está calado, dentro da sua política típica de ver para onde caem as modas para depois ir atrás. Nesse aspecto este Governo não difere de anteriores.
A luta não é entre austeridade e crescimento. É sobretudo entre a razão e a irracionalidade. Porque a irracionalidade alemã e dos seus aliados não só está agora a colocar adversários políticos em capitais importantes como está a instigar o caos, como já é visível numa cada vez mais ingovernável Grécia. Onde nem Pitágoras agora conseguiria explicar o seu teorema se o aplicasse à política. Na política grega nos triângulos rectângulos o quadrado da hipotenusa não é igual à soma dos quadrados dos catetos. A lógica política europeia quebrou-se. Hollande ganhou as eleições porque prometeu reverter as políticas de austeridade do seu antecessor. E Merkel está a ver os seus aliados caírem, como num castelo de cartas. Nunca a Grécia esteve tão perto de sair da Zona Euro e neste momento deixou de ter um Governo a funcionar plenamente. A contracção monetária e fiscal criou este enorme balão de desemprego e arrastou os países do sul para a recessão. Mas o vírus está a chegar ao norte, como já se vê na Holanda.
Angela Merkel não deveria, no seu perfeito juízo, pensar que sucessivas doses de austeridade não acabariam por fomentar a revolta. Não é por acaso que a União Europeia já pede "crescimento". A balança do poder na Europa está a alterar-se. Mesmo que Merkel diga que vai receber Hollande de braços abertos, a corda já esticou demasiado. E quando a Chanceler alemã diz que o pacto fiscal não é negociável deve estar a dizê-lo para depois acreditar no que diz após ler nos jornais. Crescimento e empregos é a nova mensagem política, porque como se começa a ver nas eleições na França e na Grécia os partidos extremistas estão a ir à boleia do desemprego e da crise. Um dia destes teremos euro mas não teremos democracia real.
A Europa tem funcionado em torno de um pacto entre a Alemanha e a França. Ele poderá não ser quebrado com a eleição de Hollande, mas um novo acordo deverá demorar tempo a definir-se. O futuro da Europa define-se nas barricadas da austeridade e do crescimento. Não admira que a festa de Hollande se tivesse feito na praça da Bastilha. A simbologia vale alguma coisa. O que a eleição de Hollande mostra, tal como a pulverização grega, é que a política de austeridade foi uma panela de pressão que está a rebentar por todos os lados. E que mostra que uma Europa construída à sombra de uma moeda, e apenas disso, não é uma solução de futuro. Hollande não é nenhum Lenine, ao contrário do que acredita a "Economist". Pode até abrir janelas para uma saída da crise que não seja uma implosão da sociedade. Algo que preocupou sempre os líderes social-democratas depois da II Guerra Mundial. E que nos últimos anos muitos esqueceram em nome de uma visão unilateral das sociedades.
A luta não é entre austeridade e crescimento. É sobretudo entre a razão e a irracionalidade. Porque a irracionalidade alemã e dos seus aliados não só está agora a colocar adversários políticos em capitais importantes como está a instigar o caos, como já é visível numa cada vez mais ingovernável Grécia. Onde nem Pitágoras agora conseguiria explicar o seu teorema se o aplicasse à política. Na política grega nos triângulos rectângulos o quadrado da hipotenusa não é igual à soma dos quadrados dos catetos. A lógica política europeia quebrou-se. Hollande ganhou as eleições porque prometeu reverter as políticas de austeridade do seu antecessor. E Merkel está a ver os seus aliados caírem, como num castelo de cartas. Nunca a Grécia esteve tão perto de sair da Zona Euro e neste momento deixou de ter um Governo a funcionar plenamente. A contracção monetária e fiscal criou este enorme balão de desemprego e arrastou os países do sul para a recessão. Mas o vírus está a chegar ao norte, como já se vê na Holanda.
A Europa tem funcionado em torno de um pacto entre a Alemanha e a França. Ele poderá não ser quebrado com a eleição de Hollande, mas um novo acordo deverá demorar tempo a definir-se. O futuro da Europa define-se nas barricadas da austeridade e do crescimento. Não admira que a festa de Hollande se tivesse feito na praça da Bastilha. A simbologia vale alguma coisa. O que a eleição de Hollande mostra, tal como a pulverização grega, é que a política de austeridade foi uma panela de pressão que está a rebentar por todos os lados. E que mostra que uma Europa construída à sombra de uma moeda, e apenas disso, não é uma solução de futuro. Hollande não é nenhum Lenine, ao contrário do que acredita a "Economist". Pode até abrir janelas para uma saída da crise que não seja uma implosão da sociedade. Algo que preocupou sempre os líderes social-democratas depois da II Guerra Mundial. E que nos últimos anos muitos esqueceram em nome de uma visão unilateral das sociedades.
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