Opinião
Pierre Debourdeau
Portugal tem hoje uma Responsabilidade Social acrescida, dada a adopção de uma Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável.
A Responsabilidade Social das empresas pode ser definida como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interacção com outras partes interessadas. Ou então como o compromisso de as empresas contribuírem para o Desenvolvimento Sustentável, trabalhando com os seus colaboradores, os seus fornecedores, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar a qualidade de vida, entendendo-se o Desenvolvimento Sustentável como aquele que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras virem a satisfazer também as suas próprias necessidades.
A verdade é que Portugal tem hoje uma Responsabilidade Social acrescida, dada a adopção de uma Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável que pretende «fazer de Portugal, no horizonte de 2015, um dos países mais competitivos da União Europeia num quadro de qualidade ambiental e de coesão e responsabilidade social».
Acontece que Portugal vai ter de prosseguir este objectivo num quadro de forte concorrência para as suas empresas, o que as obrigará a serem cada vez mais produtivas, ou seja, a terem a capacidade de criar valor nas diferentes etapas do processo produtivo e para cada um dos diferentes níveis de actuação.
E se é verdade que a palavra sustentabilidade está historicamente ligada à criação de valor, mas apenas para os accionistas, hoje compreendemos que o desenvolvimento sustentável assegura condições para a criação de valor noutras entidades, como por exemplo nos clientes, nos fornecedores, na sociedade em geral e também nos recursos humanos da empresa. E percebemos que uma criação de valor partilhada garante o cumprimento dos princípios da responsabilidade social.
Mas, como podemos conciliar estes interesses diversificados que, à partida, até parecem antagónicos? E qual é o contributo possível de uma empresa de consultoria nesta temática?
Vejamos: uma empresa de consultoria intervém nas organizações evidenciando precisamente a necessidade de reconciliar e de agir ao nível dos seguintes eixos estratégicos: Cliente, Recursos Humanos, Meio Envolvente e Accionistas. A sua acção apoia-se na ideia de uma lógica integrada, ou seja, na perspectiva de que cada um dos actores deverá conhecer o seu campo de actuação, mas tendo sempre em conta um objectivo comum.
O envolvimento dos colaboradores
Os Recursos Humanos são pois actores dos mais importantes na estratégia global de uma organização. Assim, a desmultiplicação desta estratégia de responsabilidade social, complementada pela recolha de ideias junto dos colaboradores, deverá garantir a apropriação e o envolvimento dos recursos humanos na concretização dos objectivos traçados.
Vejamos o exemplo de uma determinada empresa do sector da hotelaria que na definição da sua Visão estratégica tem inscrito como objectivo a contratação de colaboradores deficientes, isto para além de realizar doações regulares de roupas de cama e lençóis a instituições de solidariedade social, de distribuir produtos alimentares aos mais necessitados e de apoiar crianças com Sida.
Pergunta-se: quais os principais impactos e benefícios directos desta forma de actuação? Para além das vantagens em termos da imagem externa da empresa, importa realçar desde logo os ganhos internos, a começar pelo facto de os colaboradores adquirirem uma visão mais global do seu papel dentro da organização e assumirem maiores responsabilidades no cumprimento dos seus objectivos estratégicos. Quer isto dizer que os colaboradores ganham um acréscimo de motivação e que a empresa também ganha com colaboradores mais motivados, com maior capacidade de inovar e com uma cultura transversal da organização.
Mas também os accionistas terão uma organização mais produtiva e lucrativa, enquanto a sociedade fica mais rica com um novo actor para o seu desenvolvimento sustentado.
Em jeito de conclusão, importa deixar um alerta, pois segundo as conclusões de um estudo da SDC (????) publicado em 2004, apesar da maioria das empresas entrevistadas (nacionais e multinacionais a operar em Portugal) apresentarem um registo de boas práticas de Responsabilidade Social, os seus colaboradores não tinham essa percepção, dado que essas práticas não lhes eram comunicadas.
Perde-se assim uma das grandes vantagens de pensar e realizar a «responsabilidade social»: a de valorizar internamente as boas práticas, criando nos colaboradores maior entusiasmo e motivação acrescida. E perde-se também a oportunidade de criar uma sociedade mais forte, pois os colaboradores das empresas são em primeira instância cidadãos. Que serão tanto mais responsáveis quanto mais despertos estiverem para as questões da responsabilidade social e para a necessidade de multiplicarem as boas práticas neste domínio. Dentro e fora das empresas.