Opinião
Opinião: O desafio das marcas é mostrar que a sustentabilidade é o novo luxo
Luís Costa, Partner da Get2C, diz que os caminhos da sustentabilidade não devem ser sacrificados em prol da prosperidade económica. Representam antes "um portal para um crescimento sem precedentes e harmonia social".
Acabei de chegar à COP28 no Dubai, onde tive a oportunidade de visitar aquela que é, aparentemente, a mais bem organizada COP das muitas em que já participei. Em contraste com este local claramente pensado num contexto de sustentabilidade, também tive a oportunidade de visitar um opulento centro comercial. Estas duas visitas levaram-me a uma reflexão sobre o estado atual e, principalmente, futuro do nosso planeta.
Enquanto agente ativo no mercado das alterações climáticas e sustentabilidade, tenho muitas conversas sobre os verdadeiros entraves para um desenvolvimento ambiental sustentável. Repetidamente, o fator económico é usado como o principal motivo para a não adoção de tecnologias ou comportamentos menos sustentáveis. Por consequência, um dos maiores impedimentos para que os países possam honrar o propósito do acordo de Paris: manter o aquecimento global abaixo do 1.5ºC em relação aos níveis pré-industriais.
Mas este argumento é falacioso, senão vejamos. O mercado global de luxo atingiu um valor perto de €1,4 biliões, com um crescimento superior a 20% [fonte: Bain & Company]. Este gasto absolutamente extraordinário suscita uma questão fundamental: podemos, na nossa abundância social, poupar uma fração deste colossal gasto para impulsionar iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável? Pode este montante, se bem redirecionado, pavimentar o caminho para um futuro mais harmonioso e ambientalmente consciente?
Usemos, como exemplo, o setor da energia elétrica, que globalmente representa cerca de 20% das emissões globais. Se conseguirmos redirecionar uma parcela deste mercado de bens de luxo para energia renovável, estaremos a falar de uma mudança global monumental. De acordo com os valores apresentados no relatório da IRENA de 2021, o valor instalado de Solar Fotovoltaico foi de 758 milhões de euros por MW e de Eólico foi de 1,25 milhões de euros por MW. Tendo em conta estes dados, o valor do mercado de bens de luxo pessoal permitiria potencialmente a instalação de 300 a 400 gigawatts (GW) de energia renovável adicional. Essa mudança prodigiosa iria revolucionar o nosso paradigma energético, direcionando-nos para fontes de energia mais limpas e sustentáveis.
Mas o que é que este montante representa realmente? Segundo o último Relatório do IPCC, as emissões totais provocadas pelo consumo de energia derivadas da atividade humana estão estimadas em 36 Gt CO2e por ano. O redireccionamento dos gastos supérfluos em bens de luxo para energias renováveis poderia potencialmente evitar entre 600 a 800 milhões de toneladas métricas de emissões de CO2 a cada ano, representando aproximadamente 1,7% a 2,2% das emissões globais anuais de CO2.
Se este investimento fosse efetuado na instalação de energias renováveis, o impacto seria igualmente espantoso. De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), em 2022, a China adicionou 141 GW, a União Europeia instalou 41,4 GW e os Estados Unidos incorporaram 46,1 GW de nova capacidade de energia renovável. Este investimento iria permitir uma nova capacidade instalada de energia renovável superior às taxas coletivas anuais de instalação de energia renovável das três maiores economias mundiais. O impacto desta medida seria abissal, alinhando o trajeto atual de descarbonização com o cenário previsto pelo IPCC que iria manter o nosso planeta abaixo do famoso 1.5ºC.
O nosso desafio é alinhar as preferências do consumidor com marcas sustentáveis. O desafio (e oportunidade) das marcas é demonstrar que sustentabilidade é o novo luxo.
Em conclusão, os caminhos da sustentabilidade não devem ser sacrificados em prol da prosperidade económica. Representam, ao invés disso, um portal para um crescimento sem precedentes e harmonia social. Redirecionar os gastos luxuosos para a sustentabilidade não é apenas uma alocação fiscal; é uma mudança de paradigma. É um investimento num futuro equitativo, próspero e consciente do meio ambiente, onde o avanço económico e a preservação ecológica se fundem
harmoniosamente.
Que opções devemos tomar? Trocar os gastos num estilo de vida que se desvaloriza rapidamente por um investimento em produtos associados à sustentabilidade é uma decisão poderosa. Optar por investir em títulos ou fundos que promovam energias renováveis ou outros projetos ligados ao desenvolvimento sustentável não apenas amplifica o impacto individual, mas também contribui para moldar um futuro mais sustentável para todos.
Luís Costa, Partner da Get2C