Opinião
O préstimo do ministro das Finanças
De manhã uma versão, à tarde outra. A ligeireza com que Teixeira dos Santos desatou a falar de impostos é inquietante por evidenciar a fraqueza que não se conhecia ao ministro das Finanças: também ele cede ao interesse partidário?
De facto, só o predomínio dessa lógica pode explicar uma contradição produzida num curto espaço de tempo, incoerência que o ministro justifica por “interpretações abusivas” de uma primeira intervenção. Feita em plenário parlamentar e que é, obviamente, aquela que reflecte o pensamento de Teixeira dos Santos: “O compromisso com Bruxelas é que o défice se situe em 0,4 por cento em 2010 e, até lá, não se pode pensar em facilitismo no combate à fraude fiscal e em descidas de impostos fora de tempo.” Isto foi o que o ministro disse de manhã aos deputados, numa clara reafirmação da sua política fiscal, alimentando um cenário que afastava a hipótese de um desagravamento fiscal em período eleitoral. À tarde surgiu aos jornalistas com a versão corrigida: “Portugal não pode baixar impostos enquanto tiver um défice perto dos três por cento.” Conclusão do ministro: “graças aos bons resultados”, a descida de impostos “pode estar para breve”. O espaço que medeia a cambalhota é curto mas significativo – com o crescimento económico periclitante e com o desemprego sem controlo, resta aliviar a pressão fiscal para enfrentar o combate eleitoral de 2009. E para que Sócrates – que naturalmente não foi alheio à correcção – não volte a dar o dito pelo não dito, o ministro das Finanças ofereceu o seu préstimo.
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