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15 de Maio de 2007 às 13:59

O mundo é aqui

Enquanto bebo um sumo importado do Brasil, numa esplanada solarenga, recorrendo a um copo fabricado em Espanha e usando um guardanapo de pano proveniente da Índia, vejo o porta-contentores a aproximar-se do cais.

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No convés do navio, com pavilhão da Libéria, amontoam-se marcas como a China Shipping ou a K-Line e, enquanto os tripulantes russos e filipinos lançam cabos, um avião da DHL cruza o céu, preparando a aterragem no aeroporto próximo.

O mundo está a mudar. As economias e os agentes misturam-se no grande mercado global, num bulício que aproxima o planeta, à imagem de um enorme "souk" de uma cidade árabe onde, em vez de especiarias e peças decorativas, se regateiam alimentos, matérias-primas, produtos fabricados, serviços e dinheiro.

O cenário é favorável a um negócio baseado no movimento, nas cargas e descargas, na facilitação de processos e na arte dos contactos. Por isso, é cada vez mais intensa a concorrência internacional, mais implacável o mercado logístico e mais aptos os seus "players". Por isso também, a logística se assume como o centro nevrálgico da globalização.

Tal como fizeram com as caravelas portuguesas, há cinco séculos, as águas do rio passam rápidas pelo casco fatigado do porta-contentores de Monróvia. Hoje cabe a estes gigantes de aço, com pavilhões de conveniência, desbravar novas rotas e levar os produtos de porto em porto, e cabe aos operadores logísticos, agentes transitários e transportadores serem intermediários entre culturas, como os navegadores de outrora, fazendo a ponte entre os interesses comerciais dos cinco continentes.

A Europa tem objectivos bem definidos para o seu crescimento logístico, alicerçados numa rede eficiente de transportes combinados e de infra e info-estruturas transnacionais. Face às consequências ambientais e financeiras do aumento do transporte rodoviário, o caminho-de-ferro, o transporte marítimo de curta distância e as auto-estradas marítimas são apostas essenciais para o desenvolvimento, estreitando distâncias entre as várias "europas" e tirando proveito do imparável aumento dos fluxos de carga em todo o mundo.

Ao terminar a bebida na minha esplanada, agora mais fresca, enquanto o navio da Libéria vai aliviando a sua carga e os marinheiros filipinos e russos observam, da proa elevada, a luz do fim de tarde sobre o casario, um grande navio ro-ro com bandeira italiana, carregado de viaturas nipónicas e tripulantes magrebinos, marca a sua chegada com um forte silvo. A cidade, como sempre, recebe-o com a indiferença de quem vê a globalização como uma história contada tantas vezes que vai perdendo o charme.

Pago o sumo brasileiro a um "barman" romeno com dinheiro europeu e penso, em português, se conseguiria viver num quotidiano sem estas redes globais, que colocam tudo e todos em toda a parte. Enquanto o Sol enfraquece, lembro-me como as distâncias que nos separam se tornaram ínfimas, em tão pouco tempo.

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