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Opinião
18 de Março de 2008 às 13:59

O imperativo da competitividade das empresas portuguesas face ao potencial humano

Os países que investirem mais em educação, em formação e em Investigação e Desenvolvimento podem aspirar a crescer mais depressa do que aqueles que não o fizerem. Esta afirmação é a constatação da realidade das sociedades e das economias actuais.

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Educação e formação são, não só, elementos fundamentais para se conseguirem ampliar a igualdade de oportunidades como para determinar os diferentes níveis de salários no mercado de trabalho. Para além disso, também são sobretudo, e a par, da investigação e desenvolvimento - que também dependem daqueles elementos - os factores chaves do crescimento económico, alcançando mais produtividade e maior capacidade para gerar e adoptar novas tecnologias.

As políticas de recursos humanos constituem um dos vectores mais relevantes do processo de mudança organizacional e de obtenção de vantagem competitiva. Foram diversas as empresas, nomeadamente nas electrónicas, que nos salientaram que os recursos humanos são o seu activo mais importante, mas outras com regras muito rígidas de gestão de pessoal e que encaram o factor humano numa óptica estrita de custos (a reduzir) e não a potenciar.

Um dos mais graves problemas existentes em Portugal e no que diz respeito à competitividade é o baixo nível educacional e de qualificação da população activa portuguesa.

Portugal apresenta um grande desfasamento em relação à generalidade dos países da UE.

Esta situação é resultado de atrasos históricos, mas não deixa de ser preocupante em faixas etárias mais jovens. Assim, nos grupos etários entre os 24 e os 29 anos, a percentagem da população que terminou o ensino secundário é modesta em comparação com outros países, assim como actualmente a elevada taxa de abandono escolar é deveras preocupante.

Se analisarmos para a dimensão qualitativa da educação, verifica-se que a situação é ainda pior. Portugal aparece em último lugar nas classificações internacionais de matemática, ciências e literatura. Os países, onde esse tipo de resultados foi conhecido, têm vindo a tomar medidas eficazes para o combater. Em Portugal continua o mesmo facilitismo, o mesmo sistema corporativo e a mesma teoria educacional que foi testada noutros países nos anos setenta e oitenta, com resultados catastróficos no domínio da qualidade do conhecimento.

Esta situação pode ser considerada como resultado de uma filosofia de educação subjacente do sistema e ao modelo de gestão e organização existente nas escolas portuguesas, não se procedendo a avaliação dos professores e alunos através de critérios uniformes e exames periódicos a nível nacional.

Em Portugal o número de portugueses com formação superior apresenta um valor muito abaixo da média europeia. Além disso, existe um nítido desajustamento entre as necessidades reais do mercado de trabalho e a disponibilidade de quadros qualificados para trabalhar no sector produtivo. Esta formação superior, sem vantagens imediatas em termos de conhecimentos adquiridos, dá no entanto uma capacidade de análise e de resolução de problemas bastante satisfatória com a consequente melhoria de produtividade. Torna-se evidente a necessidade de cooperação entre a Universidade e as empresas, fomentando e apoiando a investigação para programas aplicados às ciências empresariais. No entanto qualquer mudança no sistema educativo só produz efeitos ao nível do país a médio e longo prazo.

Por outro lado a eliminação dos antigos institutos industriais e comerciais e agrícolas veio trazer uma lacuna na formação dos jovens, tendo-lhes sido retirada a possibilidade de estudar numa vertente mais profissional/técnica. Também é de realçar a quase inexistente vertente da formação profissional contínua com a intervenção articulada entre Estado, Associações Empresariais e Sindicais e Empresas, já que neste domínio a formação contínua ao longo da vida activa deverá ser feita através de um plano de organização e acção tomando como referência o existente em países da UE que evidenciaram sucesso nesta matéria.

As políticas de recrutamento parecem condicionadas essencialmente pelas características e dinamismo quer das empresas quer dos sectores em que se integram. De uma forma geral pode dizer-se que as empresas mais antigas são mais avessas a alargar os quadros de pessoal, enquanto algumas das mais jovens estão ainda em fase de crescimento. Uma tónica comum e muito marcada é o reconhecimento da necessidade de reforçar a qualidade em detrimento da quantidade. Pretende-se recrutar mais quadros e técnicos intermédios e reduzir o número de operários menos qualificados. Em certas empresas esta dicotomia quantidade/qualidade apresenta-se como crítica para resposta às novas pressões competitivas. Existem empresas que têm simultaneamente excesso e escassez de pessoal; excesso de operários em estratos etários elevados e rotinados em métodos de produção tradicionais, escassez de trabalhadores jovens, flexíveis e capazes de tirar partido das novas tecnologias. A generalidade das empresas industriais encontra dificuldades em encontrar jovens com formação adequada para certas especialidades. Esta escassez de técnicos é resultante de três factores:

- Menor atractividade da indústria relativamente aos serviços, sendo esta actividade considerada como "status", resultante de aspectos culturais e de mentalidade.

- Mau direccionamento das escolhas de cursos técnicos, desprestigiando qualquer curso técnico de produção.
- Abolição de cursos técnicos profissionais considerada por muitas empresas como o "crime histórico" nas diversas reformas do sistema educativo em Portugal.

A forma encontrada pelas empresas para este tipo de problema foi estabelecer relações mais estreitas com as escolas e centros de formação profissional, proporcionando estágios.

Outra insuficiência da oferta é nos quadros intermédios, com capacidades de liderança capazes de chefiar equipas. Muitas empresas, embora reconheçam a importância da formação, optam pela aptidão à formação. Esta preferência pela aptidão baseia-se no princípio de atrair jovens em início de carreira criando neles o espírito da empresa.

Quanto a quadros superiores, nem sempre os licenciados têm efectivo poder de decisão e autonomia, como sucede em empresas de modelo centralizado e estrutura familiar onde os poderes se encontram fortemente centralizados nas mãos do empresário. Em alguns casos os licenciados são familiares do empresário o que os coloca numa situação de dependência relativamente a ele.

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