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O futuro da Internet

Nestes últimos tempos tem-se falado muito da Internet. Mal e bem.

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Nestes últimos tempos tem-se falado muito da internet. Mal e bem. Mal pelo medo que os poderes, políticos e económicos, têm de uma "coisa" que não criaram, não dominam e só exploram no que podem e como podem. Bem, pelo enorme poder libertador e democrático de uma rede de redes onde todos podem comunicar com todos a nível global.

A evolução da Internet continuará a ser determinada por estes dois movimentos antagónicos. Desejo de liberdade da maioria, vontade de controlo por parte de alguns. Não sem grandes contradições. Veja-se como o governo americano, democrata, defende a liberdade na Internet quando se trata de derrubar regimes do seu desagrado, mas é contra quando se trata de revelar os seus sórdidos segredos.

De qualquer modo, o futuro da Internet será sobretudo determinado pela própria evolução científica e tecnológica. E aí existem algumas pistas que fazem consenso nos meios que se dedicam a estas coisas. Enumero algumas, na certeza de que a verdadeira inovação que mudará tudo está por nascer.

No futuro as pessoas passarão a estar ligadas à Internet, não através de cabos, portáteis ou telemóveis, mas com ligações no próprio corpo ou na roupa. À partida pode parecer que ninguém quererá tal coisa, mas uma vez demonstradas as vantagens a adesão será enorme. Por exemplo, vigilância médica permanente, localização e segurança, telepresença, partilha em tempo real de experiências físicas e virtuais, geração de dinâmicas emergentes coletivas. Neste caso, a que por estes dias de insurreição árabe se tem chamado a revolução Facebook, não será sequer necessário trocar mensagens mas simplesmente movermo-nos em direção a uma praça ou ponto. Esse movimento, detetado na rede, levará outras pessoas a mover-se também nessa direção. De difícil tradução chama-se efeito "swarm".


A ligação direta cérebro/computador, objeto de intenso estudo e desenvolvimento na área das neurociências, ampliará este ambiente imersivo de tipo neuronal que cada vez, com mais propriedade, caracterizará a Internet.


Por sua vez, com o digital a invadir praticamente qualquer suporte e com a proliferação de sensores e "tags", a comunicação deixará de estar confinada a écrans e surgirá literalmente em toda a parte. Desse processo nascerá uma Internet das coisas e do espaço físico, na qual os próprios objetos poderão comunicar connosco e entre si sem intervenção humana. Por exemplo, o carro poderá falar com a estrada.


A isto acresce a evolução da Inteligência Artificial no sentido da humanização do "software", de algumas máquinas e dos robôs, de tal maneira que, em muitas circunstâncias, será difícil distinguir o que é humano e o que é máquina. Muita coisa passará o famoso teste de Turing. Nessa medida, a nossa comunicação, incluindo a componente afetiva, deixará de ser feita sobretudo com humanos e alguns animais, e passará a incluir "software", máquinas e robôs que connosco partilharão trabalho, vivências e desejos. O que já hoje acontece não só quando as pessoas falam com a "menina" do GPS, mas sobretudo quando muitos programas nos dão "ideias" de como proceder.


Mas naturalmente surgirão também efeitos muito negativos. A Internet das coisas permitirá uma vigilância total, de espaços públicos e privados, ultrapassando em muito o sonho de qualquer Big Brother. A vigilância dos indivíduos será permanente e avassaladora gerando enormes bases de dados que, uma vez analisadas através de algoritmos de tipo psicológico, poderão determinar tendências, sociais, políticas, culturais ou para efeitos comerciais. A polícia saberá a cada momento onde estamos, o que estamos a fazer e, eventualmente, o que poderemos fazer a seguir. As empresas conhecerão os nossos desejos e tendências. A cultura será feita à medida do gosto maioritário, facto já visível na banalidade da cultura contemporânea mainstream.

Desde os primeiros passos dados em 1969 pela ARPAnet, nada mudou tanto o mundo como a Internet. E vai continuar. Pois nada promete tanto como oportunidade de criatividade, de inovação e de empreendimento humano e económico. É só estar atento.


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