Opinião
O estágio da nação
Há uma diferença fulcral entre José Sócrates e Manuel Pinho. O primeiro é a câmara de eco da retórica. O segundo é todo ouvidos. Sócrates fala alto para não ouvir ninguém. Pinho sorri e escuta todos.
Eles são a cara e a coroa do Governo. Na véspera do exercício de elogio próprio que Sócrates encenou ontem, numa versão menos afinada do que a de Pavarotti, sobre o Estado da Nação, a GM disse aquilo que todos sabiam ser inevitável mas em que só uma pessoa não acreditava. Manuel Pinho, que deve ser considerado carinhosamente como o ministro mais crédulo do mundo ocidental, nunca pensou que a GM iria fechar a fábrica da Azambuja sem ter a gentileza de o avisar primeiro. Não avisou.
Mas o ministro da Economia também não é um homem avisado: deveria ter entendido que os sinais astrais não mentiam. Pinho acredita no que escuta. E só quando a GM aclarou a voz percebeu o que os lábios do seu dirigente queriam dizer. Há, no entanto, algo que custa. Quando foi à Alemanha falar com a GM o ministro foi oferecer a cabeça em troca de nada. Mais valia estar a utilizar esse tempo em soluções que pudessem imprimir nova vitalidade ao tecido empresarial. A conclusão do imbróglio GM é simples: se Pinho fosse uma carteira de acções, era para vender já. Um ministro não tem de ser credível. Tem de parecê--lo. É por isso que Sócrates fala alto. Cala a oposição. E cala, por momentos, ministros como Pinho.