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Monetarização de créditos para criar liquidez

A dificuldade em obter liquidez é um dos aspectos mais graves da actual crise para muitas empresas. Embora possa ser rentável, se uma empresa estiver com falta de liquidez encontra-se em perigo de sobrevivência...

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A dificuldade em obter liquidez é um dos aspectos mais graves da actual crise para muitas empresas. Embora possa ser rentável, se uma empresa estiver com falta de liquidez encontra-se em perigo de sobrevivência.

A liquidez pode escassear por vários motivos: os fornecedores podem exigir pagamento a prazos mais curtos; os clientes podem deixar de comprar tão frequentemente ou a passar a pagar mais tarde; os bancos podem não conceder mais empréstimos.

É na dilatação do prazo de recebimento de clientes que muitas vezes se encontra a primeira causa das dificuldades de tesouraria de empresas rentáveis. Para uma empresa com um rácio de vendas para activos igual a quatro, o alongamento de um dia no prazo médio de recebimentos origina, ceteribus paribus, uma necessidade de financiamento equivalente a cerca de 1% do seu activo. Pode conseguir este financiamento de vários modos, inclusive através de empréstimo bancário. No entanto, se esse financiamento não puder ser obtido e a empresa não tiver montante equivalente em disponibilidades, a dilatação de um dia do prazo médio de recebimentos poderá levá-la à falência.

Uma solução óbvia para minorar a crise de liquidez que muitas empresas actualmente enfrentam seria o Estado pagar todas as suas dívidas a essas empresas e passar a pagar-lhes a pronto. O plano de pagamentos recentemente anunciado pelo governo vai neste sentido. No entanto, devido às dificuldades orçamentais que o Estado enfrenta, esta solução apresenta limitações.

Uma outra alternativa seria "monetarizar" as dívidas do Estado: permitir que, ainda que de modo limitado, as empresas pudessem usar essas dívidas para saldar os seus créditos noutras empresas e/ou com o próprio Estado. Essa "monetarização" requereria solução para vários problemas jurídicos e operacionais difíceis mas não intransponíveis. Uma solução, actualmente a ser implementada no Japão, consiste na titularização electrónica das dívidas do Estado a fornecedores de bens e serviços. Após a criação de uma base electrónica de registo das dívidas comerciais do Estado, sempre que este adjudique um fornecimento a uma empresa de valor superior a dado montante, essa adjudicação é registada na base. A empresa pode então particionar esse crédito, registar essa partição, e usar parte para pagar aos seus fornecedores ou obter financiamento de instituições financeiras e guardar o restante para receber directamente do Estado o pagamento correspondente.

Este esquema permitiria às empresas transformar um activo muito pouco líquido, mas de risco quase nulo em termos de incumprimento, num activo com liquidez semelhante ao cash. Permitiria às instituições financeiras obter uma garantia de elevada qualidade para os seus empréstimos a empresas que já esgotaram as garantias reais e pessoais que poderiam dar. E permitiria ao Estado apoiar empresas com dificuldades de tesouraria sem ter que gastar um cêntimo a mais em apoios financeiros a empresas privadas.
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