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Miami, Oeiras, o Taguspark e o Técnico

Numa conferência recente, muito interessante, organizada pela Caixa Geral de Depósitos

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Numa conferência recente, muito interessante, organizada pela Caixa Geral de Depósitos, o Dr. Félix Ribeiro apresentou diferentes cenários prospectivos para a economia portuguesa, claramente desafiadores e com especiais exigências nas áreas do conhecimento e das infra-estruturas.

O cenário com que mais me identifico, porque aproveita um elevado número de vantagens competitivas que o País já possui, e que traça um rumo muito promissor para a nossa economia, foi intitulado "Cenário Flórida" e caracterizado do seguinte modo:
• Portugal transformar-se-ia num espaço residencial privilegiado para as classes média alta da Europa em busca de amenidades e atractivos.
• Portugal veria a concretização de uma variedade de pólos de atracção que serviriam um turismo com forte componente de animação cultural.
• Portugal atrairia um conjunto de multinacionais americanas, especializadas nos serviços de saúde e na engenharia biomédica, para servir a Europa, reorientando parte dos sectores têxtil e plásticos para segmentos ligados à saúde.
• Portugal desenvolve um conjunto de pólos de indústrias criativas e do audiovisual, bem como de parques temáticos, em parceria com operadores mundiais de lazer e da indústria cinematográfica.
• Portugal atrai empresas inovadoras na área das energias verdes, bem como de soluções inovadoras da mobilidade eléctrica.
• Portugal consegue encontrar funções na área emergente do Turismo Espacial, graças à localização de um "spaceport" no seu território por parte da empresa europeia líder deste novo sector.
• Portugal lança-se em parcerias internacionais, para o desenvolvimento de tecnologias de exploração submarina nos Açores e transforma-se numa base global para essas actividades.
Trata-se de um cenário para o País em 2025.
Mas o que me fascina neste cenário, de definição estratégica, é o seguinte conjunto de variáveis:
• Tem uma visão clara.
• Tem um conjunto de objectivos estratégicos bem definidos e realizáveis.
• É suportado em unidades de conhecimento em relação às quais o País já tem uma base instalada razoável.
• Desenvolve-se a partir de bases competitivas existentes nas nossas áreas de serviço mais dinâmicas e inovadoras.

Em termos geográficos Oeiras tem todas as condições para ser o epicentro do desenvolvimento deste cenário.

O conceito de "Oeiras Valley", que tem vindo a ser permanente e consistentemente desenvolvido e detalhado, contempla um sistema integrado de desenvolvimento suportado em unidades de conhecimento intensivo, em torno de três "clusters" essenciais:
• O "Cluster" das Tecnologias de Informação e Comunicação.
• O "Cluster" da Biotecnologia e das Tecnologias da Saúde.
• O "Cluster" das Tecnologias Tropicais.

Todos estes três "clusters" são suportados em unidades produtoras de conhecimento - Universidades e Institutos de Investigação - de grande qualidade e dimensão internacional, existentes em Oeiras e em empresas de alta tecnologia, de dimensão adequada, que operam nos mercados globais nestes sectores de actividade.

Esperamos, aliás, que, numa altura em que tanto se fala no "cluster" do mar, o Instituto de Biologia Marítima localizado em Algés - Oeiras, que constitui com o IGC, o ITQB e o IBET uma base do conhecimento com massa critica internacional no âmbito das biotecnologias, não seja deslocado para uma região sem qualquer tradição nesta área do conhecimento e sem uma ligação clara a uma Universidade de referência.

Para a concretização deste cenário em Portugal com uma intervenção determinante de "Oeiras Valley", duas outras instituições são cruciais: o Taguspark - o único parque tecnológico de dimensão internacional que o País possui e o Instituto Superior Técnico, a nossa melhor escola de engenharia.

O Taguspark inclui já no seu plano estratégico o reforço de competências científicas e empresariais nestas áreas de actividade, atraindo novas unidades de produção de conhecimento e empresas internacionais de base tecnológica.

Aliás, a aproximação estratégica utilizada neste modelo, baseia-se, em termos teóricos, na Teoria dos Recursos, revisitada de forma exemplar no capítulo escrito por Barney e Arikan no Manual sobre Gestão Estratégica de Hitt, Freeman & Harrison, que é suportada nos seguintes princípios:
• Organizações que controlam recursos únicos, valiosos, escassos e não replicáveis e que são inelásticos em relação à oferta podem obter vantagens competitivas claras, usando-os para o desenvolvimento e implementação da sua estratégia.
• Organizações que usam dum modo continuado estes recursos, para desenvolver e implementar a sua estratégia, podem garantir proveitos, significativos, de um modo sustentado.

Finalmente, o Técnico, entidade crucial para a concretização deste projecto de desenvolvimento, que detém já uma base instalada de conhecimento notável na área da Engenharia Biomédica, tem de estar disponível para criar uma nova Faculdade de Medicina que integre uma grande componente tecnológica nos seus cursos de especialização, para poder responder às novas questões especificas, que este cenário nos coloca. Reforçará, ainda, a sua base de conhecimento actual no domínio das Engenharias Aeroespacial e Naval de modo a dar resposta cabal a este desafio.

Este cenário ambicioso e mobilizador está claramente ao nosso alcance.

Vamos ser capazes de o concretizar?


Professor Associado Convidado do ISCTE
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