Opinião
12 de Outubro de 2015 às 09:52
Mercados emergentes: uma ameaça ou uma oportunidade?
As economias emergentes atravessam há praticamente dois anos a ameaça do fim das políticas monetárias hiperexpansionistas adotadas pelas autoridades monetárias das economias desenvolvidas.
A turbulência das bolsas na China durante os últimos quatro meses, em especial dos mercados locais Shenzen e Xangai, e o modelo encontrado para gerir a crise por parte das autoridades chinesas abalou a confiança e a credibilidade da segunda maior economia do mundo e, por arrastamento, agudizou ainda mais os problemas das economias emergentes.
As economias emergentes atravessam há praticamente dois anos a ameaça do fim das políticas monetárias hiperexpansionistas adotadas pelas autoridades monetárias das economias desenvolvidas, nomeadamente dos EUA e da Reserva Federal (Fed). O MSCI Emerging Markets Index corrigiu cerca de 26% desde abril até ao final de setembro, encetando desde então uma recuperação significativa (+10%) acompanhando assim a tendência igualmente positiva dos mercados desenvolvidos que têm registado um mês de outubro francamente positivo.
O acesso a dinheiro fácil, como já tinha acontecido noutras paragens, resultou no excessivo endividamento das empresas destas economias que desde 2008 mais do que duplicaram os capitais alheios, de cerca de $7.5 triliões para mais $17.5 triliões, de acordo com o relatório de outubro de estabilidade financeira global produzido pelo Fundo Monetário Internacional.
Este excessivo endividamento e a perspetiva de adoção, mais ou menos eminente, de uma política monetária menos expansionista por parte da Fed que, relembre-se, tem adiado a subida de taxas de reunião em reunião, deverá levar igualmente ao endurecimento da política monetária doméstica destas economias e, por conseguinte, à redução de rendibilidade das empresas excessivamente endividadas. A boa notícia é que o processo de endividamento destas economias foi sobretudo feito internamente e não com recurso a financiamentos em moeda estrangeira.
No entanto, temos de distinguir as "nuances" entre economias emergentes. De um lado temos aquelas que estão suportadas sobretudo pelos seus recursos naturais como Brasil, Indonésia, África do Sul, Rússia ou mesmo economias de-senvolvidas como Austrália e Canadá, que sofrem os efeitos negativos de uma procura global mais contida e de uma China em processo de transformação que tem levado à quebra acentuada dos preços das "commodities". E as economias emergentes que aproveitaram os últimos anos para alocarem os seus recursos, mesmo os alheios, para desenvolverem economias de base industrial como Taiwan, Coreia e Índia.
Dito isto, e se considerarmos que a China está em processo de transformação, aliás há muito anunciado, de uma economia baseada em investimento e exportações para uma economia baseada no consumo e não propriamente em processo de recessão, e que apesar de um ritmo menos acelerado a economia global continuará a crescer atrás da locomotiva EUA, o investimento em emergentes, seletivo, começa novamente a fazer sentido. As moedas destes países sofreram desvalorizações acentuadas e os ativos locais oferecem prémios assinaláveis. Estes prémios devem ser aproveitados pelos investidores de forma criteriosa, mas são sem dúvida uma oportunidade de médio e longo prazo pela simples razão que o investimento deve ser suportado sempre por uma perspetiva de valor e oportunidade por contraponto a uma perspetiva de tendência.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.