Opinião
20 de Julho de 2015 às 10:24
A nova vida dos fundos de investimento em Portugal
Não terá passado completamente despercebido, mas provavelmente não lhe terá sido também dada a devida importância. Desde o passado dia 1 Julho, o regime de tributação dos Organismos de Investimento Colectivo (OIC), mais vulgarmente conhecidos por fundos de investimento, mudou.
Não terá passado completamente despercebido, mas provavelmente não lhe terá sido também dada a devida importância. Desde o passado dia 1 Julho, o regime de tributação dos Organismos de Investimento Colectivo (OIC), mais vulgarmente conhecidos por fundos de investimento, mudou. E mudou para melhor. Para a indústria e sobretudo para os participantes.
Na sequência da publicação do Decreto-lei nº7/2015, de 13 de Janeiro, os fundos passaram a estar praticamente isentos de impostos podendo desde logo apresentar rendibilidades comparáveis aos seus congéneres europeus. Recordemos que até à entrada em vigor deste decreto-lei a carga fiscal incidia sobre os rendimentos e mais-valias do próprio fundo, sendo as rendibilidades apresentadas já líquidas de impostos. Com o novo regime, a carga fiscal incidirá sobre os rendimentos do participante tornando o processo mais transparente para todos, extinguindo-se a iniquidade fiscal entre fundos domiciliados em Portugal e fundos domiciliados internacionalmente. Em resumo, mais não se fez do que transpor uma moldura fiscal já consolidada nos restantes países europeus, o que aumenta a competitividade dos fundos de investimento portugueses e posiciona-os num patamar de quase igualdade fiscal com a indústria internacional, embora ainda aquém daquilo que se passa na Irlanda, Luxemburgo e mesmo na vizinha Espanha. Foi bom, mas não chega. E já voltaremos ao tema.
Além da proteção que é dada aos participantes, os fundos de investimento permitem o acesso a carteiras otimizadas na sua função de retorno ajustado ao risco e devidamente diversificadas por regiões e classes de activos, com custos de transação baixos, aos quais o investidor individual não tem normalmente acesso. De forma muito simples, podemos dizer que existem fundos de investimento para praticamente todos os objetivos de investimento e perfis de risco. Por exemplo, num evento remoto de contágio da crise grega e redenominação cambial, um fundo de investimento multi-activo sem restrições geográficas seria provavelmente o instrumento que melhor protegeria o património financeiro dos investidores pois os ativos subjacentes estariam imunizados a qualquer tipo de conversão forçada.
A indústria de fundos de investimento, ao contrário de outras indústrias, não precisa nem de subsídios, nem de incentivos e muito menos de "bail-outs" ou "bail-ins" para sobreviver ou crescer. O que a indústria precisa é de investimento na promoção da literacia financeira e estímulos sérios à poupança de longo prazo. E esta é uma responsabilidade séria do Estado, seja ele de que cor for. Esse estímulo passa pela diluição do "gap" de enquadramento destes instrumentos face às melhores práticas europeias.
O país precisa de poupança a longo prazo para enfrentar os desafios que se avizinham e os portugueses precisam de poupar para financiar os encargos futuros que o estado social não poderá continuar a prover (reforma, saúde, educação…). Aprendemos isso com a crise, e por isso os fundos de investimento nacionais deveriam ser enquadrados num regime fiscal que apenas ativasse a tributação à saída deste veículo de investimento e não dos OIC individualmente, aliás, à semelhança do que acontece na vizinha Espanha com o "trespasso". Talvez em próximas legislaturas cheguemos a este patamar.
Entretanto, iremos continuar a assistir, por boas razões, à gradual separação da indústria de gestão de ativos de grupos onde a principal atividade é a banca comercial. Sugiro que se consulte sobre este tema o excelente trabalho do Professor Doutor Miguel Almeida Ferreira, "Asset Management within Commercial Banking Groups: International Evidence". Resta-nos continuar a trabalhar no fomento de uma indústria independente de espírito e de conteúdo, como eu tenho a certeza que será hoje uma realidade, mas também uma indústria independente na forma e onde a única afiliação seja a afiliação com o participante, ou seja, o investidor.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.