Opinião
27 de Maio de 2009 às 11:54
Justiça e vingança
1. A mega-fraude de Bernard Madoff foi desvendada no início de Dezembro de 2008. A sentença judicial está marcada para o final do próximo mês. Qualquer semelhança entre a eficiência do sistema de justiça norte-americano...
1. A mega-fraude de Bernard Madoff foi desvendada no início de Dezembro de 2008. A sentença judicial está marcada para o final do próximo mês. Qualquer semelhança entre a eficiência do sistema de justiça norte-americano e o português é pura coincidência.
Os casos que envolvem o BCP, o BPN e o BPP ilustram bem as diferenças. Arrastam-se em intermináveis investigações e inquéritos, com recriminações, sacudidelas da água para cima de capotes alheios, trocas de acusações e lutas de bastidores entre autoridades que, depois de terem falhado na prevenção, querem aproveitar a oportunidade para removerem as manchas acumuladas nas respectivas túnicas. Pelo meio, parece ser mais prioritário encontrar um culpado que esteja a jeito do que apurar responsabilidades.
Na intervenção que ontem fez no Parlamento, José Oliveira Costa também demorou o seu tempo e colocou mais alguns ingredientes na receita que adensa os mistérios e as contradições no caso que lhe diz respeito. Nem se esperava outro desempenho. Geriu, durante um período largo, uma instituição em que os colaboradores que o ladeavam e os accionistas que o escolheram e que nele confiaram seriam, afinal, "cegos, surdos e mudos", como afirmou antes de se apresentar perante os deputados.
Sendo o único candidato a noivo que a culpa arranjou, até agora, para evitar ficar solteira, não quer fazer de bode expiatório de todos os pecados do BPN. Compreende-se. Neste banco, como no BCP e no BPP, quer no interior das instituições financeiras como no exterior, as cumplicidades e a passividade fizeram passar por boas operações e decisões que a crise financeira escrutinou sem piedade. A queda dos mercados substituiu aquilo que um olhar mais atento da supervisão, o activismo accionista e a acutilância dos auditores poderiam ter detectado, a tempo de evitar o colapso e a entrada em cena dos cofres públicos.
Em termos sumários, foi isto que Oliveira Costa acabou por recordar no Parlamento, ao denunciar a actuação de accionistas e colaboradores do BPN, com Dias Loureiro e Joaquim Coimbra à cabeça. O seu interesse é óbvio. Sentir-se-á, por esta altura, demasiado só na condição de arguido. Clama por justiça, deseja vingança ou quer as duas coisas em simultâneo. Nas entrelinhas, fica claro que a história do BPN ainda está muito mal contada.
2. Nas horas difíceis, mostrar apoio e dar encorajamento a quem dele eventualmente necessite é uma atitude nobre e louvável. Nalgumas ocasiões, justifica-se que essas manifestações de solidariedade sejam feitas em público. Noutras, o bom senso aconselha a que sejam realizadas de forma mais discreta.
O louvor a João Rendeiro aprovado pelos membros da associação Empresários pela Inclusão Social inclui-se entre os actos de apoio que deveriam contemplar algum recato. O trabalho do antigo presidente do BPP na liderança daquela organização poderá ser considerado merecedor dos mais inequívocos elogios, mas quando se acrescenta à iniciativa a natureza de um desagravo pelas "acusações" decorrentes da situação de pré-falência do Privado, já não se compreende. Horácio Roque saberá que há clientes do banco que têm o seu dinheiro congelado?
Os casos que envolvem o BCP, o BPN e o BPP ilustram bem as diferenças. Arrastam-se em intermináveis investigações e inquéritos, com recriminações, sacudidelas da água para cima de capotes alheios, trocas de acusações e lutas de bastidores entre autoridades que, depois de terem falhado na prevenção, querem aproveitar a oportunidade para removerem as manchas acumuladas nas respectivas túnicas. Pelo meio, parece ser mais prioritário encontrar um culpado que esteja a jeito do que apurar responsabilidades.
Sendo o único candidato a noivo que a culpa arranjou, até agora, para evitar ficar solteira, não quer fazer de bode expiatório de todos os pecados do BPN. Compreende-se. Neste banco, como no BCP e no BPP, quer no interior das instituições financeiras como no exterior, as cumplicidades e a passividade fizeram passar por boas operações e decisões que a crise financeira escrutinou sem piedade. A queda dos mercados substituiu aquilo que um olhar mais atento da supervisão, o activismo accionista e a acutilância dos auditores poderiam ter detectado, a tempo de evitar o colapso e a entrada em cena dos cofres públicos.
Em termos sumários, foi isto que Oliveira Costa acabou por recordar no Parlamento, ao denunciar a actuação de accionistas e colaboradores do BPN, com Dias Loureiro e Joaquim Coimbra à cabeça. O seu interesse é óbvio. Sentir-se-á, por esta altura, demasiado só na condição de arguido. Clama por justiça, deseja vingança ou quer as duas coisas em simultâneo. Nas entrelinhas, fica claro que a história do BPN ainda está muito mal contada.
2. Nas horas difíceis, mostrar apoio e dar encorajamento a quem dele eventualmente necessite é uma atitude nobre e louvável. Nalgumas ocasiões, justifica-se que essas manifestações de solidariedade sejam feitas em público. Noutras, o bom senso aconselha a que sejam realizadas de forma mais discreta.
O louvor a João Rendeiro aprovado pelos membros da associação Empresários pela Inclusão Social inclui-se entre os actos de apoio que deveriam contemplar algum recato. O trabalho do antigo presidente do BPP na liderança daquela organização poderá ser considerado merecedor dos mais inequívocos elogios, mas quando se acrescenta à iniciativa a natureza de um desagravo pelas "acusações" decorrentes da situação de pré-falência do Privado, já não se compreende. Horácio Roque saberá que há clientes do banco que têm o seu dinheiro congelado?
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