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31 de Maio de 2016 às 08:00

José Miguel Júdice: Sorte, milagre ou Pangloss

O que é que Portugal tem de fazer para não depender da sorte?

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Sinceramente, nesta conjuntura não vejo outra  solução que não seja toda a classe política ir a pé a Fátima pedir um milagre a Nossa Senhora. Ou, para os mais céticos ou populistas, irem pedir milagres aos santinhos da sua devoção numa qualquer romaria cheia de eleitores. 
Para quem não seja católico (ou sendo-o não acredite muito em milagres) isto soa a pessimismo. E realmente é isso mesmo. 

Portugal – com os dados do problema que são os nossos – não parece ser hoje em dia viável.

Lembremos apenas algumas das dezenas de variáveis negativas possíveis, dado que o espaço é curto: a dimensão da dívida externa (pública e privada), a falta de poupança endógena, a crise europeia, a falta de recursos naturais, o défice público, o peso excessivo do Estado, a quebra demográfica, a baixa produtividade e a falta de energia vital, a percentagem de reformados sobre  a população ativa e o envelhecimento desta, a falta de qualidade da educação para os desafios do nosso tempo e o analfabetismo funcional de tantos de nós, o défice de sentido cívico e de cultura de cidadania, a cultura endémica do desperdício, a  cultura de direitos sem deveres e a devoção ao Nosso Senhor Estado, os hábitos de gritar exigências sem preocupação com os custos, a legislação de país rico, a ineficiência da burocracia, a emigração dos setores mais ativos dos segmentos geracionais mais dinâmicos,  a fraqueza do capitalismo português, a perda de centros de decisão nacionais, a fragilidade das instituições de crédito, o pessimismo que nos vai na alma, as tendências depressivas, o cansaço histórico, a fraqueza dos terrenos agrícolas e a falta de cultura industrial, a  mania do consumismo, a falta de ética de tantos que formam as nossas elites, a disfuncionalidade do nosso sistema político.

O que não tem remédio, remediado está? É possível que não seja assim, diz a panglossiana esquerda portuguesa. Basta que se injete dinheiro para consumo, se reforce o Estado e os que dele vivem, se subam os impostos por aí acima, se dê mais poder aos sindicatos, para que – cá está o milagre – tudo se passe melhor no melhor dos mundos possíveis. Então – o Sr. Pangloss o diria e havendo muita sorte – a Europa vai passar a aceitar que a dívida seja perdoada com os povos dos países que nos perdoam a cantar e dançar em solidariedade com Portugal, mas apesar disso o défice poderá voltar a crescer com a nossa dívida a ser alegremente comprada pelo horríveis capitalistas. Além disso, convém (e com a ajuda de Pangloss consegue-se) que se nacionalize alguma coisa, que a Europa arranque com taxas de crescimento asiáticas, que os agências de "rating" passem a ser socialistas, que o petróleo não suba muito, que não haja inflação, que se continuem a matar todos no Mediterrâneo para termos mais turistas, que todas as exigências de todas as freguesias sejam satisfeitas, que os poucos que pagam impostos diretos se resignem a pagar cada vez mais.

Podia não ser assim, claro. António Costa pode contar a ajuda do popularíssimo Presidente da República para fazer as reformas que quem manda em nós exige. Mas pelo andar da carruagem não está (ou não pode estar para aí virado…)

A esperança é a última coisa que morre? É possível que sim. Mas, não se esqueçam, os últimos sobreviventes apaguem as luzes…  


Advogado

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