Opinião
José Miguel Júdice: Sorte, milagre ou Pangloss
O que é que Portugal tem de fazer para não depender da sorte?
Sinceramente, nesta conjuntura não vejo outra solução que não seja toda a classe política ir a pé a Fátima pedir um milagre a Nossa Senhora. Ou, para os mais céticos ou populistas, irem pedir milagres aos santinhos da sua devoção numa qualquer romaria cheia de eleitores.
Para quem não seja católico (ou sendo-o não acredite muito em milagres) isto soa a pessimismo. E realmente é isso mesmo.
Portugal – com os dados do problema que são os nossos – não parece ser hoje em dia viável.
O que não tem remédio, remediado está? É possível que não seja assim, diz a panglossiana esquerda portuguesa. Basta que se injete dinheiro para consumo, se reforce o Estado e os que dele vivem, se subam os impostos por aí acima, se dê mais poder aos sindicatos, para que – cá está o milagre – tudo se passe melhor no melhor dos mundos possíveis. Então – o Sr. Pangloss o diria e havendo muita sorte – a Europa vai passar a aceitar que a dívida seja perdoada com os povos dos países que nos perdoam a cantar e dançar em solidariedade com Portugal, mas apesar disso o défice poderá voltar a crescer com a nossa dívida a ser alegremente comprada pelo horríveis capitalistas. Além disso, convém (e com a ajuda de Pangloss consegue-se) que se nacionalize alguma coisa, que a Europa arranque com taxas de crescimento asiáticas, que os agências de "rating" passem a ser socialistas, que o petróleo não suba muito, que não haja inflação, que se continuem a matar todos no Mediterrâneo para termos mais turistas, que todas as exigências de todas as freguesias sejam satisfeitas, que os poucos que pagam impostos diretos se resignem a pagar cada vez mais.
Podia não ser assim, claro. António Costa pode contar a ajuda do popularíssimo Presidente da República para fazer as reformas que quem manda em nós exige. Mas pelo andar da carruagem não está (ou não pode estar para aí virado…)
A esperança é a última coisa que morre? É possível que sim. Mas, não se esqueçam, os últimos sobreviventes apaguem as luzes…
Advogado
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