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(In)disciplina partidária

Seguro tem, neste momento, o pior dos trabalhos: honrar os compromissos sem excessiva colagem ao Governo. A primeira parte, está a cumprir fielmente. Na segunda é que este líder não se destaca, quando assume mesmo antes de qualquer negociação que o apoio do PS está garantido

Em Fevereiro deste ano, aquando da votação do pacote de austeridade decisivo no Parlamento grego que permitiu desbloquear o segundo empréstimo àquele país, deu-se uma revolta entre os parlamentares. Embora 199 dos 300 deputados tenham votado a favor das medidas, e portanto elas tenham sido aprovadas, houve 43 deputados que decidiram quebrar a disciplina parlamentar. 21 deputados do Partido Socialista PASOK e 23 deputados do partido de centro direita Nea Demokratia recusaram aprovar as medidas, enquanto as ruas de Atenas ardiam com manifestantes a incendiar lojas e bancos, devido à espiral recessiva em que o país se encontra(va). Estes deputados acabaram por ser expulsos do grupo parlamentar.

Vem isto a propósito das notícias sobre a crescente balcanização do grupo parlamentar do PS. Na sequência do voto contra o pacote laboral, Isabel Moreira, deputada independente pelas listas do PS, ainda não foi expulsa do grupo parlamentar mas recebeu uma reprimenda. Na terça feira, o vice-presidente do mesmo grupo parlamentar, Pedro Nuno Santos, demitiu-se por divergências em relação à linha seguida por Seguro.

À direita, Ribeiro e Castro votou contra o pacote laboral para desgosto de vários colegas de bancada. E nem mesmo o PSD permanece incólume. Fernando Seara já diz que há quem no governo e no PSD não saiba ler o memorando da troika. A tentativa de separação operada no último Congresso entre partido e governo é uma manobra inteligente para evitar o pior nas próximas eleições autárquicas. Mas adivinham-se difíceis tempos para os partidos de governo.

Embora todos os partidos estejam com alguns problemas, é claro que é o PS que está em piores lençóis. Seguro, que não escolheu o actual grupo parlamentar, nem assinou o memorando da troika, tal como costuma realçar, está agora sob grande pressão. Sobretudo por uma ala do esquerda do PS que gostaria de mandar os compromissos assumidos anteriormente às urtigas. É relevante ver que o último pacote laboral foi concertado com a UGT, e que nem João Proença entendeu o voto contra de Isabel Moreira. Talvez esta deputada se tenha enganado de grupo parlamentar.

Seguro tem, neste momento, o pior dos trabalhos: honrar os compromissos sem excessiva colagem ao governo. A primeira parte, está a cumprir fielmente. Na segunda é que este líder não se destaca, quando assume mesmo antes de qualquer negociação que o apoio do PS está garantido. É de facto, no mínimo caricato afirmar que as probabilidades de chumbar um orçamento são 0,00001% ou falar de "abstenção violenta".

Mas é bom de ver que Seguro tem neste momento um trabalho difícil, mas necessário. As soluções para Portugal têm de passar por acordo com o PS, e no quadro do compromisso com a troika. Aliás tal como foi votado em 2011, uma eleição legislativa que foi em parte um referendo às medidas contidas no memorando. Seria importante que os deputados do PS se lembrassem disso.

As forças que Seguro irá precisar para conseguir a unidade do partido não lhe permitem abrir duas frentes de lutas internas. O que significa que é necessário apaziguar a ala socrática do grupo parlamentar. Porque claramente, neste momento a unidade tem de fazer-se em torno do objectivo do apoio aos compromissos assumidos. Mas terá Seguro suficiente responsabilidade política para isso? As recentes manobras estatutárias dentro do partido não parecem indicar tal coisa.

Apesar de tudo, há diferenças entre nós e a Grécia que podem facilitar o trabalho de Seguro. Enquanto na Grécia há voto preferencial, isto é o eleitor vota num partido e depois vota também nos candidatos, cá não. Por isso, o deputado português tem de pensar apenas em agradar à direcção do partido, se quiser ser reeleito. Esta disciplina parlamentar revelar-se-á bastante útil aos líderes partidários nacionais, que estarão mais bem preparados para lidar com revoltas do que as da Grécia.

Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
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