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04 de Dezembro de 2007 às 13:59

Fado português

Nos últimos anos trinta anos, Portugal transfigurou-se! Um cenário iminentemente rural e agrícola urbanizou-se, o cenário cresceu em altura e as ruas ganharam uma azáfama e uma dinâmica outrora jamais sonhada.

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No entanto, olhando para o país o que vemos? Semblantes carregados e sisudos de quem carrega as obrigações de um endividamento pessoal exagerado originado na miragem de juros baixos (ocorridos na fase de convergência nominal que antecedeu a adesão ao euro) e tem ainda a obrigação castradora de alimentar o vicioso leviatã que reside na Administração Pública. A baixa anormal nos juros, que nos iludiu para um sobre consumo nos últimos anos, poderia facilmente ter sido o catalisador necessário para apostas claras e contundentes no investimento e estímulo empresarial. É no mínimo lamentável que o nosso país seja actualmente utilizado como case study de como não proceder após a adopção do euro (veja-se o estudo da CE "Portugal’s boom and bust: lessons for euro newcomers"). O plano educacional para suplantação do hiato na valorização do capital humano português está lançada mas deixa muito a desejar em termos organização e planeamento, parecendo preocupar-se mais em trepar freneticamente os rankings estatísticos europeus do que em efectivamente aumentar a competitividade do país. É uma espécie de corrida contra o tempo, tentando remediar num par de anos o que levaria uma geração inteira a concretizar.

Curiosamente, não posso deixar de fazer o interessante paralelismo entre a economia portuguesa e as prestações futebolísticas das respectivas selecções de futebol e futsal nas últimas grandes competições em que participaram: quando têm tudo para vencer relaxam, reduzindo-se a uma imagem caricata do seu potencial. Segue-se a "terapia" do acontecido: um breve período de autoflagelação sentindo saudades daquilo que nunca fomos e finalmente (porque a dor é muito e pode induzir à acção e mudança) acomodamo-nos voltando à postura indolente e infantilizada: "Há piores que nós, nem estamos mal!".

Terão realmente os portugueses medo de existir (tal como José Gil denunciou na sua brilhante obra)? Existirá apenas um crónico receio de suplantar as expectativas e agarrar as oportunidades no timing certo e vencer para variar? Quando deixaremos o esboço rebuscado de lado para ter uma real estratégia de desenvolvimento económico e um planeamento territorial eficiente (com uma capital grandiosa mas não um buraco negro que tudo absorve)? Uma responsável gestão dos fundos estatais que permita estimular a economia de uma forma flexível utilizando uma política fiscal e orçamental contra-cíclica, presumo que também não calharia mal. Após os difíceis 3% haverá melhor altura que o agora? Pergunto-me se será este o nosso Fado? Ou recordando o Euro 2004: "Será demais pedir a taça?" Creio que não! Neste país de "vira o disco e toca o mesmo" talvez o melhor seja mesmo começar por alterar a tristonha banda sonora!

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