Opinião
Façam como a Donatella
A Versace está a dar a volta por cima. À beira da bancarrota em 2004, com prejuízos avassaladores de 95 milhões de euros, vendas a cair a pique e dívidas em escalada, a empresa parecia condenada a não resistir à morte do fundador Gianni.
Mas em apenas dois anos conseguiu fazer o «turn around» e já anuncia que pode ter antecipado em um ano a saída do vermelho, prevista para 2007. Como? Não temendo pôr tudo em causa e fazer as mudanças necessárias, mesmo quando tal podia significar abandonar os seus conceitos fundadores. «Mudámos tudo e reinventámo-nos a nós próprios», é a explicação de Donatella Versace, que assumiu as rédeas depois da morte do irmão.
De facto, só uma coisa ficou no mesmo sítio: o posicionamento da marca no sector do luxo. Quanto ao resto mudou tudo, desde a estratégia de negócio, a alienação dos segmentos menos lucrativos e a concentração nas linhas «core», até ao próprio «design», onde os excessos dos 90 deram lugar a uma imagem mais serena, mais conforme ao espírito do tempo. Ou não estivéssemos no mundo da moda.
Encontrei a história do «turn around» da Versace no Portugaltêxtil, um excelente «site» de notícias sobre o sector têxtil, editado pelo Cenestap de Famalicão. Não resisto a fazer eco dela porque me parece exemplar de como não há guerras perdidas à partida, algo que parece difícil de aceitar pela mentalidade lusitana.
Quando tudo parece ruir à nossa volta, há sempre a hipótese de meter as mãos à obra e tratar de salvar o que pode ser salvo para seguir em frente. Pode não estar ao alcance de todos. Mas está ao alcance de alguns.
E não venham dizer que «isso é a Versace», que está no negócio do luxo e da alta costura, não é a mesma situação das empresas do têxtil e da moda nacionais, que competem pelo preço onde a Versace compete pela marca e pelo sonho. Não é a mesma coisa mas os princípios aplicados podem ser os mesmos.